O principal destino turístico de Pernambuco, que só em janeiro deste ano recebeu cem mil visitantes, amanheceu aterrorizado nesta sexta-feira (03). Em vez de fotografar as piscinas naturais e outras belezas do balneário, turistas e moradores da Praia de Porto de Galinhas, no Litoral Sul, a 60 quilômetros do Recife, apontavam câmeras e celulares para duas agências bancárias. Pelo menos 20 bandidos provocaram medo e um rastro de destruição no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. Fizeram nove pessoas reféns, metralharam seis carros (sendo três viaturas da PM), balearam e sitiaram a delegacia para impedir a reação da polícia e atiraram em fachadas de lojas e pousadas. Ainda dispararam contra as lâmpadas dos postes de iluminação pública, deixando o local na escuridão. Apesar da violência, ninguém ficou ferido. Até a noite de ontem ninguém havia sido preso.
A quadrilha começou a investida por volta das 2h. Permaneceu lá cerca de 40 minutos. Para evitar a chegada de reforço policial, os ladrões colocaram grampos nas duas rodovias estaduais que dão acesso a Porto de Galinhas (PE-51 e PE-60), distrito de Ipojuca, na Região Metropolitana. Na Caixa Econômica o bando explodiu o cofre e fugiu com malotes de dinheiro. A explosão no Banco do Brasil foi tão forte que o teto desabou e o prédio pegou fogo, atingindo dez boxes de artesanato. Sangue que ficou no local foi coletado por peritos para exame de DNA. As lojinhas atingidas são vizinhas à agência. Um caixa eletrônico do Banco 24 horas, ao lado da unidade, não foi alvo dos assaltantes.
É a terceira ação em bancos de Pernambuco em apenas quatro dias e a 21 dias do Carnaval. Terça-feira, houve roubo em duas agências de São Vicente Férrer, na Zona da Mata. Na quarta, em três bancos: dois em Bonito, no Agreste, e um em Camutanga, na Zona da Mata. Policial com quase 40 anos de carreira, o delegado de Ipojuca, Alberes Félix, ficou impressionado com os estragos provocados pelos bandidos. “Nunca tinha visto tamanha destruição. A quadrilha usou armamento pesado e grande quantidade de explosivos”, comentou. “A quadrilha chama a atenção pela ousadia e pela forma violenta e articulada como agiu. Os locais foram periciados e as Polícias Civil e Federal vão trabalhar conjuntamente para esclarecer o caso”, explicou o chefe da comunicação social da PF, Giovani Santoro. Vinicius Notari, delegado da força-tarefa, comandará os trabalhos.
Na delegacia havia dois delegados, três PMs e três policiais civis. Um deles era a delegada titular de Porto de Galinhas, Anete Marques. “Estava no meu gabinete fazendo um relatório. Exatamente a 1h55 ouvi um disparo. Logo em seguida uma rajada intermitente de tiros, alguns contra a delegacia. Percebi que era de fuzil ou metralhadora. Menos de um minuto depois houve uma explosão, que soube pela manhã que tinha sido na Caixa Econômica. O barulho foi ensurdecedor, tanto que tive dor de ouvido”, relatou Anete Marques. Ela pulou para o canto da sala, onde estava o colchão e lá ficou encolhida por 25 minutos. Turistas e moradores também contaram ter ouvido o estrondo e acharam que eram fogos de artifício.
REFÉNS
Amigos que voltavam de uma boate foram rendidos pelos ladrões. Enquanto parte da quadrilha agia nos bancos, outra permaneceu com os reféns. Uma das vítimas afirmou que o sotaque deles parecia ser de fora do Estado. “Disseram que não iriam nos machucar, que só queriam roubar os bancos”, contou. “Eu tinha acabado de sair da boate e parei na padaria para lanchar. Quando ouvi a explosão, me escondi atrás de uma parede. Fiquei lá uns 40 minutos. Vi quando passou um carro com homens encapuzados. Foi desesperador. Parecia que não ia acabar nunca”, relatou o administrador Ricelli Brasil, 31 anos, morador de Porto de Galinhas.
Secretário de Turismo e Cultura de Ipojuca, Rui Xavier lamentou o episódio. “Porto de Galinhas é o principal destino turístico de Pernambuco. Um fato como esse prejudica não só o município, mas também o Estado. Esperamos urgentemente que medidas sejam tomadas pelo governo estadual para que isso não volte a ocorrer. Fica a preocupação com a imagem de Porto depois de tudo.” A prefeitura garantiu recuperar os boxes no menor prazo possível e informou que vai contactar o Estado “para tratar da segurança pública, que necessita de especial reforço nessa época de alta temporada”.