SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE

Fotos de crianças com microcefalia estariam sendo usadas para aplicar golpe em PE

Nome de instituições de assistência a crianças com microcefalia também estariam sendo usados pelos golpistas. Famílias dos pequenos prestaram queixa

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Publicado em 28/11/2018 às 9:56
Foto: Bobby Fabisak/ JC Imagem
Nome de instituições de assistência a crianças com microcefalia também estariam sendo usados pelos golpistas. Famílias dos pequenos prestaram queixa - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/ JC Imagem
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Instituições que prestam assistência a crianças com microcefalia e suas famílias precisaram procurar a polícia para denunciar um possível golpe que estaria sendo aplicado no Agreste do Estado. Na última semana, representantes da União das Mães de Anjos (UMA) e da Aliança de Mães e Famílias Raras (Amar) descobriram que o nome das ONGs e fotos das crianças ajudadas estavam sendo usados por um grupo de pessoas para arrecadar dinheiro na cidade de Santa Cruz do Capibaribe. Ao descobrir a farsa, pessoas que doaram se sentiram lesadas e procuraram a delegacia da cidade. No Recife, onde a UMA e a AMAR atuam, representantes e mães também prestaram queixa.

Durante semanas, comerciantes de um polo de confecções de Santa Cruz receberam ligações pedindo doações. Pelo whatsapp, pessoas conversavam com os interessados em doar para explicar qual era o grupo ajudado. “Eles falavam em uma instituição chamada Amigos da Microcefalia (AmA) e utilizavam fotos nossas. Depois de sensibilizar os comerciantes, combinavam para passarem no domingo seguinte para buscar as quantias doadas. Usavam até recibos”, explica a presidente da UMA, Germana Soares. Na quarta-feira passada (21), representantes da Amar receberam uma ligação da administração do centro de compras questionando o envolvimento da ONG com essas arrecadações. “Depois que eu disse que não éramos nós, eles ficaram atentos e, no último domingo (25), quando dois motoqueiros chegaram lá para pegar os valores, eles os detiveram até a chegada da polícia”, conta Pollyana Dias, presidente da Amar.

Na delegacia, os dois homens contaram que tudo não passava de um golpe. Com eles, foram apreendidos recibos e R$ 20 mil, que seria fruto das arrecadações. Segundo a Polícia Civil, os dois foram liberados após prestarem depoimento. No entanto, duas mulheres, que assinavam os recibos e entravam em contato com os comerciantes, não foram localizadas.

Para as mães das crianças que estavam nas fotos, a situação causou revolta. “Usaram a minha criança, que tem uma síndrome, para comover as pessoas e conseguir dinheiro. Isso é muito triste”, relata Carolina Calabria, mãe da pequena Lis, de 3 anos. Segundo ela, as imagens foram pegas de uma rede social da menina. “Eu criei um perfil para Lis com o intuito de desmistificar a síndrome. Lá, converso com outras mães, mostro o dia a dia da minha filha, compartilho experiências… A intenção era criar uma rede com outras famílias, mas as fotos foram utilizadas para cometer um crime. Nunca imaginei que alguém seria capaz disso”, diz.

A dona de casa Juliana Nascimento é mãe de Gabriel Nascimento, 3. Ele também aparece nas imagens compartilhadas pelos golpistas. “Entre as fotos roubadas no perfil de Lis, há registros de várias crianças, inclusive de Gabriel. Nós estamos revoltadas. Apesar das dificuldades, nenhuma de nós usa fotos dos nossos filhos para ganhar dinheiro, porque outras pessoas, que nem conhecemos, se acham no direito de fazer isso?”, desabafa. Como os cuidados com o menino precisam ser constantes, ela não pode trabalhar e se mantém com um benefício recebido.  “Nos viramos como pudemos e toda campanha que fazemos é para as instituições, onde ele e os coleguinhas recebem todo o apoio e atendimento” acrescenta.

Na segunda-feira (26), as famílias e as ONGs foram até o Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), no bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife, para prestar queixa. No entanto, a investigação segue na delegacia de Santa Cruz do Capibaribe, já que o Depatri só pode iniciar as investigações quando o valor do prejuízo é superior a quarenta salários mínimos. Ainda nesta semana, o grupo pretende ir ao Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA) denunciar o uso indevido das fotos das crianças.

Agora, a preocupação das instituições é que o fato causa desconfiança quanto ao trabalho realizado por elas. “Sempre fazemos uma campanha tão limpa, tão transparente... é triste saber que pessoas de má fé foram ao interior lesar as pessoas usando nossos nomes. Além de estarem expondo as crianças”, pontua Pollyana. Tanto a Amar, quanto a UMA possuem redes sociais e sede fixas, o que facilita no acompanhamento do trabalho.

Segundo Germana, há formas de tomar cuidado para não cair em golpes desse tipo. “É preciso que as pessoas estejam atentas. Nossas instituições têm páginas nas redes sociais, temos sede, CNPJ, prestamos conta. A ONG dos golpistas não tinha endereço, telefone fixo, rede sociais, site… pontos que devem ser levados em consideração na hora de doar”.

Formas de ajudar

A Aliança de Mães e Famílias Raras existe há cinco anos e atualmente atende 420 famílias de várias partes do Estado. Na Amar, as crianças recebem apoio e serviços, como fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia. Para a família, há cursos profissionalizantes.

No dia 17 de dezembro, será realizada uma festa de Natal para os pequenos e, para isso, a instituição está arrecadando doações. Além de quantias em dinheiro, material de higiene, como fraldas, e leite também são aceitos.

As doações podem ser entregues na sede, que fica na Avenida Almirante Nelson Fernandes, em Boa Viagem, ou, no caso de dinheiro, feitas por meio de depósito bancário. Agência 1835-0, Corrente: 59262-5, Banco do Brasil. O telefone para contato é 3462-6444 e 9 8491-4604 (Whatsapp).

A União das Mães de Anjos (UMA) também recebe donativos e doações em dinheiro para arcar com os custos dos serviços oferecidos. Além disso, a ONG aceita voluntários que tenham interesse em ajudar nas atividades. A sede fica na Rua André Dias, 152, no Barro. Doações em dinheiro podem ser feitas na Conta Corrente 82660-x, Agência 2802-9, Banco do Brasil. Interessados podem entrar em contato pelo número (81) 98748-9065.

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