INVESTIGAÇÕES

Ex-pastor é indiciado por estupro e atos libidinosos contra mulheres no Recife

O suspeito teria cometido, no mínimo, oito crimes contra mulheres enquanto exercia a função de pastor de uma igreja evangélica no Recife

Rute Arruda e Bruna Oliveira
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Rute Arruda e Bruna Oliveira
Publicado em 27/02/2020 às 16:08
FOTO ILUSTRATIVA: DIEGO NIGRO/JC IMAGEM
IMAGEM ILUSTRATIVA | Ainda de acordo com a polícia, outras duas supostas vítimas do mesmo homem foram até a delegacia para denunciá-lo desde sua prisão - FOTO: FOTO ILUSTRATIVA: DIEGO NIGRO/JC IMAGEM
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A Polícia Civil de Pernambuco está investigando casos de estupro e atos libidinosos cometidos por um ex-pastor de uma igreja evangélica da Zona Norte do Recife. De acordo com a delegada Bruna Falcão, responsável pela Delegacia Mulher, até o momento oito mulheres denunciaram o homem, que também é formado em psicologia. A delegada explicou, no entanto, que quatro casos não poderão ser investigados porque os crimes já prescreveram. Um deles, inclusive, é datado do ano de 1996, quando uma das vítimas tinha 17 anos. Quatro inquéritos já foram concluídos e o homem foi indiciado pela polícia. As denúncias, segundo a delegada, começaram a chegar em janeiro de 2020. 

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De acordo com a Polícia Civil, o homem usava a condição de pastor e psicólogo para praticar atos libidinosos durante o atendimento pastoral. "Ele se prevalecia da sua função para tentar praticar atos libidinosos contra essas mulheres dizendo que eram técnicas de cura, libertação espiritual e psicológica e, com algumas dessas mulheres ele conseguiu consumar atos libidinosos e com uma delas a gente conseguiu materializar que ele praticou efetivamente o estupro", contou.

Segundo a delegada responsável pelo caso, o ex-pastor foi intimado para prestar depoimento no dia 13 de fevereiro, mas apresentou atestado médico alegando estar afastado das suas funções habituais por problemas psiquiátricos durante 60 dias e pediu adiamento do interrogatório. Foi marcado um novo depoimento para a semana seguinte, mas foi apresentado um novo atestado psiquiátrico e os inquéritos foram concluídos e remetidos à Justiça. "Esse segundo adiamento a gente não deferiu e resolveu não aguardar. Nós sabemos que problemas psiquiátricos a gente não tem condições de estimar a recuperação", explicou a delegada. "Os procedimentos foram concluídos sem o interrogatório do investigado e remetidos para apreciação do Poder Judiciário", completou.

A delegada ainda explicou que após as denúncias começarem a aparecer, o pastor foi submetido a um conselho com os líderes da instituição, no qual foi oferecido a ele a possibilidade de renunciar ao cargo ou de continuar e ser aberto um processo administrativo para apurar a conduta. "Ele preferiu firmar uma carta a próprio punho renunciando ao ministério", disse.

Procurada pela reportagem, a Convenção Batista no Recife disse que fará um pronunciamento em breve sobre o caso, e afirmou que a igreja está tomando todas as providências necessárias para o desligamento do pastor. 

Apesar das denúncias contra o homem, a delegada explicou que não foi feito o pedido de prisão preventiva porque ele "em nenhum momento se furtou à intimação, se colocou à disposição para ser inquirido, embora contrariamente à recomendação médica". "Mas, havendo motivos justificados para que a gente peça a prisão e ele responda de maneira encarcerada aos procedimentos, isso será feito. A gente não vislumbrou a possibilidade no momento, mas isso pode mudar no futuro", disse.

Modus operandi

Durante entrevista à Rádio Jornal, uma das vítimas relatou que o ex-pastor agia da mesma maneira com todas as vítimas. "Ele usava técnicas de manipulação para ouvir nossos problemas e dificuldades e, através do nosso relato, dizia que ia nos ajudar a sermos mais felizes. Era dessa forma que ele nos atraia para o gabinete pastoral", disse.

O Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco - 2ª Região (CRP-02), em nota, informou que a Comissão Orientação e Fiscalização (COF CRP-02) "tomou ciência da situação a partir da referida matéria e está adotando as providências administrativas cabíveis à luz da regulamentação vigente".

Leia a nota do Conselho Regional de Psicologia 

Em resposta ao referido JC, o Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco 2ª Região sob sua função precípua de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de psicóloga/o e em fiel observância do cumprimento do Código de Ética Profissional, reitera que está a serviço da sociedade. Toda/o qualquer cidadã e/ou cidadão pode denunciar aos Conselhos Regionais de Psicologia a/o psicóloga/o que considere estar exercendo a profissão de forma irregular e/ou infringindo as legislações do Conselho Federal de Psicologia e o Código de Ética (COE CRP-02). Com relação ao caso citado a autarquia precisa apurar junto a Comissão de Ética do Conselho para verificação mediante processo administrativo disciplinar a autoria e a responsabilidade. Se comprovada qualquer infração ao exercício da ciência da Psicologia, submeterá ao julgamento, fato que poderá resultar até na cassação do exercício profissional.

A Comissão Orientação e Fiscalização (COF CRP-02) tomou ciência da situação a partir da referida matéria e está adotando as providências administrativas cabíveis à luz da regulamentação vigente.

Por fim, em defesa incansável dos Direitos Humanos, o CRP-02 reitera a importância da sociedade exercer a cidadania e encaminhar sua denúncia. Não é necessário se identificar ou mesmo se deslocar até o espaço físico do Conselho. No site estão todas as instruções, segue o link: https://www.crppe.org.br/profissional/?id=12 .

*Informações como nomes das mulheres e do ex-pastor não serão reveladas para preservação da identidade das vítimas

Ouça a íntegra da entrevista da delegada

 

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