As bandeirinhas coloridas são as primeiras a anunciar que os festejos de São João estão chegando. Nos subúrbios de muitas cidades grandes do Nordeste, ainda é possível ver as enormes fogueiras, que estão prontas para serem acesas na véspera do dia 24 de junho, quando se comemora o nascimento de São João Batista. Durante todo o mês, o Nordeste inteiro se prepara para comemorar o nascimento do menino que sempre carrega um carneirinho consigo, e está estampado em todos os estandartes coloridos das festas juninas.
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DUAS ORIGENS
A festa foi trazida ao Brasil no período de colonização, pelos jesuítas portugueses, que já tinham o costume de festejar o nascimento do Santo na Europa. O interessante é que nas terras tupiniquins, os povos indígenas também faziam diversas comemorações no período de junho, regadas a cantos, danças e muita comida.
Os costumes cristãos europeus então se fundiram com os costumes dos índios, e é por este motivo que a festa celebra tanto o Santo católico como tem uma grande variedade de pratos típicos e danças. No Nordeste, o povo angariou à festa muitos elementos regionais, como o forró e as vestimentas matutas.
PRIMO DE JESUS
Por trás da festa, tão tradicional e amada no Nordeste, está um dos santos mais queridos da literatura cristã. De acordo com a Bíblia, João era primo de Jesus, e também foi o último profeta que anunciou a vinda do “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Quando nasceu, seus pais acenderam uma fogueira para anunciar o seu nascimento, originando a tradição que permeia até hoje.
A principal mensagem do Santo é considerada por muitos católicos como a essência do cristianismo. Com um sermão que propõe a renúncia a si mesmo, pensando primeiramente em Cristo e nos “irmãos”, São João conquista fies devotos no catolicismo.
No Recife, há apenas uma igreja dedicada ao Santo, a Paróquia de São João Batista, que fica no bairro do Sancho, Zona Oeste da cidade. A igrejinha de paredes verdes, é um lugar sem muita pompa, frequentada por gente de todas as idades. Ali, muitos escolheram seguir os passos do santo que dá nome a paróquia, dedicando parte de suas vidas àquele lugar, com muito amor pelo que fazem.
Dona Tânia, 61 anos
A casa número 158 de uma rua do bairro do Coqueiral, Zona Oeste do Recife, chama atenção pelos azulejos e ladrilhos ornados. Ali vivem Dona Tânia, o marido e três dos quatro filhos. Nascida em família católica, a senhora de 61 anos frequenta a igreja desde pequena. A mãe dela, dona Maria José, era devota de Nossa Senhora e sempre falou para os filhos seguirem aquilo é bom, valorizando em primeiro lugar os outros, antes de valorizar a si mesmo.
A mensagem da mãe nunca foi esquecida por dona Tânia, que aos 30 anos decidiu virar devota de São João, o santo que pregava as mesmas coisas que ouviu a vida inteira. Essa devoção, conta ela, fica clara nos atos do dia a dia, onde sempre procura servir à igreja e aos irmãos.
A sua fé foi passada também para os filhos, que frequentavam a igreja com a mãe desde pequeninhos: hoje, os quatro também são devotos de São João. Todas as segundas-feiras, a família se reúne para rezar, e nesse dia, a devoção não dá espaço nem para a televisão ser ligada na casa. Marcela, a terceira filha de dona Tânia, diz que sempre achou essa fé da mãe uma coisa muito bonita e assim como os irmãos, se orgulha muito de seguir seus passos.
Junto com a família e toda a comunidade, ela ajudou a erguer duas capelas, filhas da Paróquia de São João. Neste ano, Dona Tânia foi sorteada para acolher a bandeira junina da igreja. No dia 15 de junho, ela, a família e centenas de fies saíram da casa dela em direção à igreja, numa caminhada de pouco mais de um quilômetro, celebrando o início das comemorações para o santo.
Suelen, 22 anos
Ela nem era católica, frequentava uma igreja evangélica desde que nasceu. Aos 14 anos, uma amiga a convidou para conhecer a Paróquia de São João. Logo na primeira missa, Suelen se apaixonou pela paróquia, dai então, nunca mais quis frequentar outra igreja.
Após a decisão por seguir o catolicismo, a menina teve que enfrentar uma resistência da mãe, que não gostava muito de ver a filha rezando para tantos santos. Mas com muita conversa, a mãe aceitou (apesar de “dar umas alfinetadas até hoje”).
De todos os santos, São João foi com quem mais Suelen se identificou. Ouvindo a história do profeta, foi impossível não se encantar com a mensagem de amor e toda a pregação sobre Cristo.
A aprovação no vestibular, no início deste ano, é um dos principais motivos pelos quais Suelen é grata a São João. Foram três anos de tentativa, mas ela acredita que somente após a intercessão pedida ao santo foi que conseguiu realizar o sonho de iniciar o curso de nutrição.
Mesmo tão jovem, ela se sente muito especial por ter sido “escolhida” para ser devota de São João, por ter conhecido o amor do profeta desde tão cedo. Suelen é uma é uma garota de muita fé e acredita que é importante "nunca deixar de orar para conseguir alcançar os sonhos, e claro, nunca perder a fé".
Charles, 23 anos
Frequentante da Paróquia de São João desde os nove anos, Charles lembra que desde sempre acompanhava a avó e a tia nas missas de domingo. Mesmo os pais frequentando uma igreja perto da casa da família, tinha alguma coisa naquela paróquia que toca o coração do menino até hoje.
Por São João, Charles sempre teve um carinho especial: era o santo que fazia aniversário dois dias depois do dele, além de ser protagonista de uma das festas populares preferidas do menino. Enquanto crescia dentro daquela igrejinha cercada de amor, a admiração pelo profeta João Batista foi crescendo também. Assim, foi inevitável se tornar devoto daquele santo que só falava coisas boas.
A fé foi fundamental, quando em 2006, o pai de Charles perdeu o emprego. Após três anos de orações, ele acredita que foi somente depois de uma intercessão pedida a São João que o pai conseguiu um trabalho, que sustenta a família até hoje.
“Perfeito”, é como define a sua relação com o santo e a igreja. Seguir o exemplo de São João, andando num caminho de fé, amor e boas ações é a grande felicidade da vida de Charles.
SAIBA MAIS - Todo nordestino sabe que numa boa festa de São João, a quadrilha é uma das tradições essenciais. A dança tem origem francesa e foi trazida pelos europeus ao Brasil no século 19. Com o tempo, a dança ganhou elementos regionais e expressões francesas faladas durante as apresentações foram abrasileiradas, como anarriê e anavantu.