O avanço da obesidade infantil tem alterado a incidência do diabetes tipo 2 na população brasileira. A doença, que geralmente se manifesta na maturidade, já registra diversos casos entre crianças e adolescentes. No Instituto da Criança com Diabetes, centro especializado que atende a 2.500 pacientes em Porto Alegre (RS), 3% dos casos são de diabetes tipo 2.
Em entrevista, o endocrinologista Gustavo Francklin explicou que o diabetes é uma doença decorrente da alteração na produção e na ação da insulina. No tipo 1, o próprio organismo reage contra células do pâncreas, responsáveis pela produção da insulina. No tipo 2, o problema é a resistência do organismo à ação da insulina, que aparece sobretudo em pessoas obesas e sedentárias.
“Houve mudanças nos hábitos das crianças. Elas convivem muito com videogame e computador e reduziram as atividades físicas. A alimentação também mudou, elas comem muito enlatado, fast food”, disse.
De acordo com o especialista, crianças e adolescentes diabéticos devem praticar atividade física regular pelo menos quatro vezes por semana e manter uma alimentação saudável, comendo de cinco a seis vezes por dia. Devem ser evitados gorduras e carboidratos.
“Batata frita, sanduíche, sorvete, chocolate e biscoito são alimentos hipercalóricos e geralmente atrativos. São guloseimas e os pais acabam cedendo, já que é tudo mais fácil, mais prático”, completou.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Balduino Tschiedel, o aumento da obesidade entre crianças e adolescentes e o aumento de casos de diabetes tipo 2 nessa faixa etária podem significar o aparecimento de complicações ainda mais cedo, como problemas renais crônicos e amputação de membros.
“O diferencial do tipo 2, além de ser [possível prevenir], é que ele é tratável com mudanças de estilo de vida. Para o tipo 1 isso não adianta muito, já que foi uma doença autoimune que provocou o quadro”, explicou. Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes indicam que cerca de 12 milhões de pessoas no Brasil sofrem da doença, dos quais 90% a 95% têm o tipo 2.
Lucimeire da Silva Sampaio, 38 anos, é uma dessas pessoas. A dona de casa foi diagnosticada com a doença aos 13 anos, quando se preparava para uma cirurgia de retirada do apêndice.
“Assim que foi dado o diagnóstico, comecei a tomar insulina diariamente e a prestar mais a atenção na alimentação. Tento também me exercitar mais. Quando era mais nova, costumava trapacear, comendo besteiras, mas percebi logo que não podia mais comprometer minha saúde", contou.
Quando tinha 16 anos, Keila Oliveira de Melo, técnica de enfermagem, começou a sentir-se mal, mas decidiu não procurar atendimento. “Achei que fosse um mal-estar passageiro, mas fui perdendo os sentidos, até que entrei em coma”. Os exames constataram que ela tinha diabetes. “Passei a controlar a alimentação, com os horários certos de cada refeição e a me exercitar mais. Nunca tive complicações, nem mesmo quando engravidei”.
Ana Carolina Luz Bezerra, de 18 anos, foi diagnosticada quando tinha apenas 9 anos. Ela apresentou sintomas clássicos da doença, como perda de peso, aumento da vontade de urinar e muita sede.
“Como eu era muito novinha, tive dificuldades para seguir o tratamento. Na escola, via meus colegas com lanches como salgadinhos, suco e eu não podia mais comer essas coisas, pois passava muito mal. Ainda assim, extrapolava de vez em quando. Até que tomei consciência do que tenho e passei a me controlar mais. Hoje, não tenho muitos problemas em cuidar da alimentação”, contou.