A implantação de um novo modelo de gestão no Hospital das Clínicas (HC), ligado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), está gerando impasse. De um lado, a direção da instituição prepara o repasse da administração para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), alegando seguir uma determinação do Ministério da Educação (MEC). De outro, os servidores da unidade alertam para o risco de “privatização” dos serviços. Para mostrar a insatisfação com a medida, os funcionários realizam uma paralisação parcial das atividades nesta quarta-feira (17). Cerca de 150 manifestantes realizaram uma passeata em direção à reitoria da UFPE para entregar suas reivindicações à administração da universidade. À tarde, será realizada uma audiência para decidir os próximos passos do movimento.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais de Pernambuco (Sintufepe), José Everaldo, alega que a contratação da Ebserh vai mudar o funcionamento do HC e prejudicar a carreira de seus servidores. "Serão chamados profissionais com contratos que duram apenas dois anos, podendo ser extendidos por mais dois anos. Por isso, os servidores não poderão construir uma carreira sólida. Além disso, a Ebserh vai abrir a possibilidade de convênios com planos de saúde privados. Assim, o HC vai deixar de ser um hospital escola com atendimento voltado inteiramente para o Sistema Único de Saúde (SUS)", explica.
Na manhã desta quarta-feira (17), os membros do Sintufepe estão convocando todos os servidores do HC a participar da manifestação. Nesse momento, eles estão se concentrando na portaria 4 do hospital, de onde saem em passeata para a reitoria da UFPE às 9h30. A caminhada será realizada pelo campus da universidade. A intenção é conversar com o reitor para apresentar suas reivinidações. Depois da reunião, voltam para o HC para realizar uma audiência às 15h. "Vamos discutir quais medidas serão tomadas a partir de amanhã (quinta-feira), de acordo com a resposta do reitor. Não descartamos a possibilidade de greve", revela Everaldo. Durante todo o dia de hoje, o atendimento está sendo realizado de maneira parcial. Os ambulatórios estão fechados e apenas casos de emergência estão sendo atendidos.
Além de pedir a não contratação da Ebserh, os servidores pedem o afastamento imediato da gestão atual, realização de eleições administrativas e ajuste na carga horária dos funcionários para 30 horas semanais. "Estamos fazendo uma manifestação contra o caos que se instalou no hospital. Estamos mostrando aos pacientes que não somos coniventes com essa gestão. Hoje (quarta-feira), muitos deles vieram ao hospital e vão voltar para casa sem atendimento, mas isso acontece todos os dias. Os pacientes estão sendo muito mal-tratados, por isso mostram alguma simpatia pela nossa causa", diz Everaldo. Falta de profissionais, equipamentos médicos e elevadores são algumas das principais dificuldades enfrentadas no HC.
O diretor superintendente George Telles informou que o Hospital das Clínicas, devido ao Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), passou por melhorias na estrutura e adquiriu novos equipamentos de alto custo, mas que muitos desses benefícios não estão sendo utilizados. O motivo seria a falta de funcionários que possibilitem essas atividades. “O assunto será discutido pelo conselho, mas se não for aprovado, o hospital vai continuar do jeito que está”, diz Telles, referindo-se ao déficit de pelo menos 900 funcionários que, teoricamente, só podem ser contratados por meio da Ebserh.
A empresa é uma estatal criada pela Lei Federal nº 12.550 de 2011, que tem por finalidade prestar serviços às instituições públicas federais de ensino, respeitando as diretrizes e políticas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, mas sendo da responsabilidade do MEC. Se o conselho administrativo aprovar a adesão da Ebserh, três técnicos se juntarão à equipe médica do HC para estudar as necessidades do hospital.