Atualizada às 8h
Os gêmeos pernambucanos Saulo e Davi, que nasceram ligados pelo abdome há sete meses, voltaram a ser internados, nesta segunda, no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no Recife. Por volta das 7h30, os dois seguiram para o bloco cirúrgico. Detalhes sobre a técnica também não foram revelados.
“Estou com o coração nas mãos. A decisão será de Deus”, disse a mãe, Karine Medeiros, 26 anos, muito ansiosa. Ela levou os siameses à consulta regular com o cirurgião Rui Pereira e ficou surpresa com a decisão da equipe. Pensava que a operação ainda demoraria mais um pouco. Há dois meses foram colocados quatro expansores de pele na barriga das crianças, na tentativa de auxiliar a futura separação. Na época, o chefe da equipe já havia adiantado que a separação poderia ocorrer num prazo de 60 dias. Os equipamentos, doados, são uma espécie de balão, inflado aos poucos com soro fisiológico para esticar a pele. Limitam a posição dos garotos, que não podem deitar sobre a barriga.
Saulo e Davi pesam juntos 17 quilos e compartilham o fígado. “A presença de outras estruturas unidas, se existirem, só poderá ser identificada no ato cirúrgico”, informa o Imip. Separar os gêmeos de forma bem-sucedida é o sonho dos pais, desejo desde 13 de maio, dia do nascimento, alimentado com muito sacrifício na casinha pobre do Alto Santa Terezinha, periferia da Zona Norte da capital. “Nesses sete meses dormi muito pouco e, depois da colocação dos expansores, passamos noites em claro. Eu e o pai cuidamos deles o tempo todo”, conta Karine, com a voz muito cansada.
Além de estar preocupada com a cirurgia e seu resultado, ela pensa a toda hora nos cuidados que os filhos vão precisar após a delicada operação. “Pago aluguel, a casa é muito pequena, sem ventilação. Lá aparecem ratos e escorpiões, tenho medo pela saúde das crianças.” Ela espera ajuda para mudar de habitação, o problema estrutural mais urgente.
Além dos siameses, o casal tem mais dois filhos: João Victor, 4 anos, que tem malformação numa das mãos, e Zeus, 1 ano e 5 meses. O pai, Wilton Carlos de Souza, 29, que atua em logística, está desempregado. Mesmo nessa situação a família ainda não foi incluída em programa social. Vem sobrevivendo da doação da sociedade. “Hoje (ontem) só vim para o hospital de táxi porque recebi R$ 50 de uma pessoa”, contou Karine. Segundo ela, o transporte do programa Conduz, do governo do Estado (para transportar pessoas com deficiência), já ajudou no deslocamento em outra ocasião, mas não tinha disponibilidade ontem. Embora já tenha se cadastrado na carteira de livre-acesso no transporte público por causa do filho de 4 anos, deficiente, ainda não recebeu o documento. Doações para a família podem ser depositadas na conta 32392-0, operação 013, agência 0048, Caixa Econômica Federal.