Quase um mês após separarem com sucesso os gêmeos siameses Saulo e Davi, cirurgiões do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no Recife, explicaram detalhes do procedimento que durou cerca de sete horas e meia. O resultado, único no Estado, soma-se a pouco mais de 150 casos de separação com registro na literatura médica mundial.
“A única preocupação agora é com a cicatrização”, afirmou o chefe da cirurgia pediátrica do Imip, Paulo Borges, 41 anos, que comandou a operação. Nos próximos dias as crianças voltarão ao hospital para revisão e a expectataiva dos médicos é de encaminhá-las para sessões de fisioterapia e terapia ocupacional.
“Por serem ligados, eles não se sentavam e nem engatinharam. Vão precisar aprender tudo isso a partir de agora”, explicou Arthur Aguiar, 33, outro cirurgião que participou da operação. Os meninos são filhos de um casal de baixa renda que vivia com outros dois filhos pequenos num quarto, na Escadaria Julieta do Alto Santa Terezinha, Zona Norte do Recife. Com a alta dos siameses, o governo do Estado cedeu uma casa, no Janga, em Paulista, para abrigar a família enquanto ela não é beneficiada por um programa de moradia popular.
Os siameses eram ligados pelo tórax e abdome, dividiam o fígado e o diafragma (músculo responsável pelo movimento da respiração). Para que a cirurgia fosse feita no sétimo mês de vida, foi necessário submetê-los a uma preparação, com uso de expansores de pele, importados. Dois meses após a aplicação dos aparelhos e um estudo detalhado das estruturas internas dos garotos, a equipe realizou a cirurgia. Oito cirurgiões participaram do cuidadoso procedimento.
A favor, segundo os médicos, contaram dois fatos: o fígado tinha duas vias biliares e a pleura, membrana que envolve os pulmões, estava separada. Para proteger os órgãos internos, após a separação, os cirurgiões implantaram telas sintéticas, que foram cobertas pela pele expandida dos meninos. Saulo teve um pós-operatório mais lento, foi o último a ter alta. Davi, na primeira semana, abriu pontos e precisou de nova sutura. Fora isso tudo transcorreu bem.
Rui Pereira, 59 anos, chefe da cirurgia plástica do Imip, explicou que a colocação dos expansores demorou porque o material já não é mais fabricado no Brasil. Os utilizados foram doados do Exterior e precisaram de autorização da Anvisa. A separação de Saulo e Davi foi a sexta de siameses realizada no Imip nos últimos 30 anos. Na penúltima do gênero, de crianças de Ourucuri, Sertão, só um dos gêmeos sobreviveu.