Todos nós estamos sujeitos a contrair dengue, mas as crianças e os idosos formam a população que está mais sujeita a complicações decorrentes da doença, que têm deixado as autoridades de saúde do Recife em alerta diante de uma nova epidemia causada pelo Aedes aegypti, mosquito que também causa a chicungunha. Este ano, a Prefeitura do Recife contabiliza 278 casos confirmados de dengue – 8,3% desse contingente são formados por crianças até 9 anos (23) e 6,1% por quem tem 60 anos ou mais (17).
“Na infância e na velhice, ou nos dois extremos da vida, as consequências da dengue e outras doenças infectocontagiosas podem ser mais intensas e graves porque se trata de faixas etárias mais vulneráveis a sinais de agravamento pela imaturidade do sistema imunológico”, diz o secretário de Saúde do Recife, Jaílson Correia.
Embora a incidência entre crianças e idosos no Recife não tenha disparado como na faixa etária entre 20 e 59 anos (com 69,7% de todos os casos confirmados), os dois extremos da vida merecem atenção dos especialistas porque a dengue tende a se comportar de forma diferente do usual nesses dois grupos, como enfatiza Jaílson. “Os sintomas que crianças e idosos apresentam podem fugir de um quadro clássico da doença. Em muitas situações, o caso nem é iniciado com febre. É preciso ficarmos atentos”, frisa o secretário.
Com o olhar de pediatra, ele alega que os pequenos acometidos pela dengue podem até ter dificuldade de expressar o que sentem, o que prejudica a detecção precoce da doença. Vale, então, a máxima de que criança inquieta ou com sinais de prostração merece ser avaliada por um médico, com ou sem febre. “E idosos que passam a ficar sonolentos, especialmente aqueles com diabete, hipertensão ou outras doenças crônicas, também devem ser investigados porque fazem parte de um grupo com capacidade diminuída de reagir a complicações.”
Outro detalhe é que crianças e alguns idosos não conseguem fazer referência a sintomas importantes da doença, como a dor. “Quando a dengue atinge o patamar de agravamento, o desconforto abdominal pode aparecer. Muitas crianças não conseguem relatar esse incômodo.” O depoimento do secretário serve para alertar que, diante de qualquer suspeita, especialmente em área de transmissão intensa, o diagnóstico da doença deve ser considerado – ou o profissional pode perder a chance de detecção precoce da doença.
O pequeno Pablo Italiano Macedo, 2 anos, foi internado recentemente com um mal-estar que demorou quatro dias para ser diagnosticado. “A primeira suspeita foi de laringite. Quando vi, meu filho já estava na UTI com sintomas como inchaço, diarreia e vômito. Só depois de muitas complicações é que foram desconfiar de dengue, que já estava num patamar muito grave”, relata a mãe de Pablo, a dona de casa Elen Italiano, 34. “Os médicos até ficaram sem graça para dizer que era dengue porque suspeitaram de infecção generalizada, o que nos deixou angustiados. Ainda bem que tudo passou e que Pablo está bem e saudável”, comemora Elen.