Apostar num tratamento humanizado capaz de olhar o idoso com câncer além da doença é o lema adotado pelo Serviço de Oncogeriatria do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), lançado há 15 dias com a tarefa de voltar a atenção para uma avaliação global da população idosa acometida por tumores que podem comprometer a qualidade de vida se não tratados adequadamente. Para cumprir essa missão, as unidades de oncologia clínica de geriatria e de cuidados paliativos do instituto uniram forças e passaram a oferecer um atendimento que não se limita a consultas médicas, pois oferece assistência com base no contexto social, psicológico e cultural que essa população está inserida.
A necessidade de implantar um atendimento especializado para essa faixa etária vem da seguinte constatação: o envelhecimento é o maior fator de risco para o desenvolvimento de tumores, embora seja uma doença que ocorre em todas as idades. “Cerca de 60% de todos os casos de câncer são registrados em pessoas idosas”, informa a oncologista Jurema Telles, uma das responsáveis pelo serviço. A partir dessa estatística, é possível calcular que, dos 20.070 pernambucanos que receberam o diagnóstico da doença no ano passado, 12.042 são idosos. Outro detalhe é que pacientes com 65 anos ou mais têm um aumento de 11 vezes na incidência de câncer e 16 vezes na mortalidade pela doença, quando comparados com aqueles mais jovens.
“Atendo por mês 1,5 mil pacientes com algum tipo de tumor. Desse total, 900 são pessoas com mais de 60 anos.” Na unidade, a mortalidade pela doença também é representativa no grupo dos mais velhos. “Cerca de 40% dos óbitos no Imip anualmente são decorrentes de tumores. Desse percentual, 70% correspondem à população idosa”, completa Jurema.
No serviço, um time de profissionais se empenha para cultivar o bem-estar do idoso. “Olhamos o paciente de forma integrada e, para isso, contamos com uma equipe formada por oncologista, geriatra, fisioterapeuta, educador físico, terapeuta ocupacional, enfermeiro, assistente social, psicólogo e nutricionista. Dessa forma, conseguimos entrar em sintonia para oferecer tratamento seguro e menos agressivo para os idosos com câncer”, diz Jurema.
Ela explica que a terapêutica depende mais do perfil de cada paciente do que do tipo de câncer e da fase em que a doença se encontra. Antes de indicar cirurgia, radio ou quimioterapia, a equipe avalia se o idoso tem outras doenças além do câncer, como diabete, hipertensão arterial e depressão. “A nossa intenção é evitar negligência durante o tratamento e, ao mesmo tempo, excessos”, frisa a oncologista, que diz não avaliar o idoso apenas pela idade cronológica.
“Podemos ter um paciente com 70 anos muito dependente e com outras enfermidades além do tumor. É uma situação em que um tratamento que inclui quimioterapia pode ser agressivo. Por outro lado, um paciente com 80 anos que tem uma saúde menos comprometida tende a responder melhor ao tratamento oncológico.”
No caso dos idosos com câncer que não têm indicação para cirurgia, radio ou quimioterapia, a equipe do serviço sugere uma abordagem paliativa. Dessa maneira, é possível amenizar o sofrimento do paciente através de remédios e recursos não medicamentosos que controlam a dor ou qualquer outro sintoma que cause desconforto.
Cerca de 90 pacientes dessa faixa etária são acolhidos pelo serviço, que funciona à tarde, às segundas e quintas-feiras, e nas manhãs das quartas-feiras. Agendamentos são feitos pelo telefone (2122-4792 e 8839-4246).