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Após quase sete horas de viagem deitado em cima de um colchão numa van adaptada, sem os bancos traseiros, o paraibano Carlos Antônio dos Santos Freitas, 28 anos, conhecido como Carlinhos, chegou ao Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Zona Oeste do Recife, repleto de esperança, às 7h40 de ontem. Questionado sobre a expectativa diante do tratamento, ele disse sem hesitar: “Quero voltar a andar”. O jovem deixou de caminhar há cerca de nove meses, quando a superobesidade mórbida começou a roubar a sua independência.
Agora, Carlinhos está bastante confiante na equipe médica, que tem uma grande missão pela frente: organizar um esquema terapêutico capaz de fazer com que o jovem elimine boa parte dos 420 quilos que o impedem de ter uma vida digna e de realizar as atividades básicas do dia a dia, como tomar banho de chuveiro, alimentar-se sentado a uma mesa e dormir numa cama. O caminho que Carlinhos precisa percorrer para que os médicos autorizem a cirurgia bariátrica é longo: não deve ser menor do que seis meses.
Antes do procedimento, é necessário controlar problemas de saúde que o rapaz tem associados à superobesidade. “Um paciente como ele não pode passar agora pela cirurgia porque apresenta risco alto de mortalidade e de apresentar complicações durante e após a operação”, explica a cirurgiã do HC Luciana Siqueira, responsável pela equipe do hospital que recebeu Carlinhos na manhã de ontem.
Ela acrescenta que a proposta inicial é que, com o tratamento indicado, Carlinhos consiga perder inicialmente 10% do peso atual. “Para um paciente com 420 quilos, isso ainda é muito pouco para liberarmos a cirurgia. É preciso eliminar mais do que isso. Estamos empenhados para oferecer adequadamente toda a estrutura possível para Carlinhos sair bem desse quadro tão grave.”
As condições de saúde mental que o paraibano apresenta também preocupam os médicos. “Desconfiamos que ele tenha a síndrome de Prader-Willi. Vamos investigar logo isso”, informa o chefe do Serviço de Cirurgia-Geral do HC, Álvaro Ferraz. O médico se refere a um distúrbio congênito, que afeta o sistema nervoso central e causa um atraso no desenvolvimento físico e mental, deficiências na aprendizagem, alteração no comportamento e uma necessidade involuntária e constante de comer.
“A síndrome de Prader-Willi não é um impedimento para propormos a cirurgia bariátrica. Muitas pessoas com obesidade mórbida e portadoras dessa síndrome são operadas. Pelo que vimos nos vídeos que circulam pela internet, estávamos esperando um quadro clínico de Carlinhos muito pior. Vamos fazer tudo o que está ao nosso alcance para tratá-lo da melhor forma possível”, garante Álvaro Ferraz, à frente de um serviço de cirurgia-geral que realiza cerca de 100 operações bariátricas por ano, mesmo diante de problemas comuns ao serviço público de saúde.
A cada procedimento desse tipo feito no HC, é gerado um custo extra de R$ 2 mil. Ainda assim, o HC atualmente consegue, graças ao apoio financeiro vindo de projetos, realizar boa parte dessas cirurgias por meio da videolaparoscopia – técnica segura e que oferece melhor recuperação ao paciente. “Só nós, em todo o Norte e Nordeste, poderíamos receber Carlinhos. Outras unidades de saúde foram procuradas e não aceitaram cuidar dele. Pra gente, é um grande desafio”, orgulha-se a gerente de Atenção à Saúde do HC, Ana Caetano.