Pesquisadores pernambucanos têm analisado exames de radiografias odontológicas de crianças nascidas com microcefalia para investigar se elas têm risco de desenvolver cárie no futuro. O estudo, desenvolvido por uma equipe do programa de mestrado e doutorado da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP) em parceria com o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), já analisou oito crianças com malformação congênita e percebeu que todas possuem germe dentário (estrutura embrionária de onde se derivam o elemento dental e suas estruturas de suporte), da mesma forma que crianças sem microcefalia.
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“Isso faz a gente acreditar que o vírus zika não atuou entre a 6ª e a 10ª semana de gestação; ele atuou depois”, explica a odontopediatra Mabel Paiva, mestranda pela FOP e uma das integrantes do grupo de pesquisa.
Ela informa que a expectativa é analisar, no mínimo, um universo de 40 crianças com microcefalia associada ao zika. A pesquisa conta com o apoio da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe).
“Pesquisas mostram que crianças com distúrbios neurológicos em geral, como paralisia cerebral e microcefalia de origem genética, apresentam defeitos na estrutura dentária. Agora, vamos ver se os bebês com microcefalia associada ao zika têm esses defeitos na estrutura do dente, o que pode predispor à cárie”, ressalta. A odontopediatra acrescenta que as crianças serão acompanhadas até os 3 anos – idade em que se espera terem nascido 20 dentes de leite.
“Vamos observar se há alterações que predispõem à carie. Esses problemas envolvem a falta de camada do esmalte, que protege o dente. Se há falha nessa camada, há uma predisposição ao acúmulo de placa dentária, que vem a formar cárie”, frisa. Caso a cárie seja identificada, segundo a odontopediatra, será usado um produto que está em desenvolvimento capaz de paralisar a cárie. “É um cariostático que pode ser usado na fase curativa, mas que também pode atuar na prevenção do problema”, acrescenta.
A equipe da qual Mabel faz parte é coordenada pela professora Aronita Rosenblatt. “Esse estudo, além de gerar novos conhecimentos, permitirá que crianças tenham aplicações periódicas com um produto anticárie desenvolvido pelos pesquisadores, que continuarão a examinar essas crianças em um grupo de 77 indivíduos até os 5 anos de idade, quando serão observados os dentes permanentes”, informa Aronita Rosenblatt.