Cientistas americanos desenvolveram um novo teste, mais barato e rápido, para diagnosticar a infecção pelo vírus da zika a partir de amostra de sangue ou saliva. O teste custa menos de US$ 1 por paciente e apresenta o resultado a partir da mudança de cor de uma superfície de papel - de forma análoga aos populares testes de gravidez. O novo método foi adaptado a partir de um teste diagnóstico desenvolvido para o vírus Ebola.
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O estudo que descreve o novo teste foi publicado nesta sexta-feira (6), na revista cientifica Cell, por uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Segundo os autores, o novo método diagnóstico foi testado em macacos e é uma prova de conceito para o desenvolvimento futuro de um teste desse tipo em humanos.
De acordo com o coordenador do estudo, James Collins, do Departamento de Engenharia Biológica do MIT, o novo método detecta o vírus nas concentrações mais baixas já registradas até hoje e é capaz de distinguir o vírus da zika de outros muito semelhantes, como o da dengue. Outra vantagem é que o teste pode ser armazenado em temperatura ambiente.
"Temos um sistema que poderia ser amplamente distribuído e usado em campo, com baixo custo e necessidade de muito poucos recursos", afirmou Collins.
Atualmente, o diagnóstico é feito a partir de testes sorológicos - que verificam se o paciente apresenta anticorpos contra o zika em sua corrente sanguínea - ou com o exame molecular conhecido como reação de cadeia de polimerase (PCR, na sigla em inglês), que detecta pedaços do genoma do vírus no sangue do paciente. Esses testes, no entanto, podem ser caros, levar semanas para apresentar o resultado, ou não serem capazes de distinguir com precisão entre os vírus da dengue e da zika.
"Um dos principais problemas nesse campo é ser capaz de distinguir o que têm os pacientes que vivem em áreas onde ambos os vírus estão circulando", afirmou outro dos autores do estudo, Lee Gehrke, do Instituto de Ciência e Engenharia Médica do MIT.
EBOLA
O novo método se baseia em uma tecnologia desenvolvida pela equipe de Collins para detectar o vírus Ebola. Em outubro de 2014, os cientistas demonstraram que poderiam criar redes sintéticas de genes e instalá-las em pequenos discos de papel. Essas redes de genes podem ser programadas para detectar uma sequência genética específica, fazendo o papel mudar de cor.
Depois do início da epidemia de zika no Brasil, espalhando-se para outras partes do continente, os cientistas resolveram adaptar o método ao diagnóstico da doença. "Em poucas semanas, desenvolvemos e validamos com relativa rapidez uma plataforma barata para o diagnóstico da zika", disse Collins.
Os sensores instalados nos discos de papel podem detectar 24 sequências diferentes do RNA (código genético) do genoma do vírus zika. Quando a sequência alvo de RNA está presente, uma série de interações é desencadeada, fazendo o papel amarelo se tornar roxo.
A mudança de cor pode ser vista a olho nu, mas os cientistas também desenvolveram um leitor eletrônico que pode tornar mais fácil quantificar a alteração, especialmente em casos nos quais o sensor detecta mais de uma sequência de RNA.
BAIXA CONCENTRAÇÃO
A equipe de cientistas testou o novo método utilizando sequências sintetizadas de RNA correspondentes ao genoma do zika, que foram então adicionadas ao plasma de sangue humano. Os cientistas mostraram que o método pode detectar concentrações muito baixas do RNA viral, distinguindo o vírus da zika do vírus da dengue.
Os testes foram feitos em macacos infectados com o vírus zika, já que amostras de pacientes humanos afetados pela atual epidemia da doença são difíceis de obter. Eles concluíram que nessas amostras o teste era capaz de detectar o RNA viral em concentrações de duas a três partes por quatrilhão.
Os cientistas acreditam que a mesma abordagem poderá ser adaptada no futuro para novos vírus que ainda possam surgir. Collins espera formar equipes maiores com outros cientistas para desenvolver a tecnologia para um diagnóstico comercial de zika.
"Fizemos uma bela demonstração de prova de princípio, mas ainda é preciso trabalhar mais e realizar mais testes para garantir a segurança e a eficácia do método, antes que ele seja de fato utilizados. Mas não estamos muito longe disso", afirmou Collins.