O primeiro surto de chicungunha passou na maior parte do Brasil, consumiu a qualidade de vida de pelo menos 14 mil pernambucanos (se forem considerados só os casos confirmados da doença de 2015 até o momento, segundo dados oficiais) e outros milhares de brasileiros, além de ter deixado rastros que ainda perduram em até metade dos doentes infectados pelo vírus. Muitos ainda sentem dores intensas nas articulações e vivem alimentando a esperança de que possam se ver livres do sofrimento. A boa notícia é que, com tratamento adequado, algumas pessoas atingidas na epidemia inaugural começam a melhorar após meses de dores insuportáveis.
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“A cada semana, em um grupo de dez pacientes atendidos numa manhã, dou alta para dois ou três. É como se, neles, a infecção viral fosse mais arrastada e demorasse a ir embora. Aqueles que são mais graves, com um grau maior de inflamação nas articulações, ainda não estão controlados e são tratados como pessoas com artrite reumatoide”, diz a reumatologista Cláudia Marques, do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Assista ao programa na TV JC sobre o tema:
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A reumatologista Cláudia Marques é coordenadora do estudo Coorte ChikBrasil, que já avaliou 732 pessoas que tiveram chicungunha com manifestações articulares crônicas. “Aquelas que passam mais de três meses doentes após o início da infecção têm um quadro de dores no ombro, joelho e tornozelo. Às vezes, apresentam tendinites. Uma pequena parcela dos que cronificam (sintomas com longa duração) desenvolverão doença reumatológica. Isso corresponde a 5%, com base num trabalho francês”, informa Cláudia.
Nesse grupo de pacientes, está a zeladora Rejane Maria do Nascimento, 52 anos, que teve artrite reumatoide desencadeada após adoecer pelo vírus da chicungunha. Os primeiros sintomas apareceram há um ano e três meses. “Fui dormir bem. Quando acordei, não conseguia mais colocar os pés no chão. Desde então, onde tem juntas e osso, sinto dor. Os dedos dos pés se afastaram, e não consigo fechar as mãos”, conta Rejane, que faz tratamento via infusão de medicamento biológico no Ambulatório de Acometimento Articular da Chicungunha do Hospital Getúlio Vargas (HGV), no Cordeiro, Zona Oeste do Recife. “Às vezes, vem um desespero. Mas espero ter mais qualidade de vida com as novas medicações e o acompanhamento da equipe do hospital.”
Pelo serviço especializado do HGV, que completou um ano de funcionamento, já passaram 229 pacientes, que fazem parte do estudo Coorte ChikBrasil. “Investigamos o universo que tem manifestações neurológicas e articulares, além de analisar quantos vão desenvolver artrite reumatoide e, entre estes, qual o percentual que vai precisar de drogas imunobiológicas. Sem dúvida, o sintoma que mais se expressa, desde o início da chicungunha, é a artrite (inflamação da junta). Menos comum é a artrite reumatoide, que advém da desordem imunológica trazida pela chicungunha”, salienta a reumatologista Lilian Azevedo, coordenadora do Ambulatório de Acometimento Articular da Chicungunha do hospital.
A médica participou, na última sexta-feira (25), do programa Casa Saudável na TV JC e tirou as dúvidas dos internautas sobre o tema, ao lado da técnica da Gerência de Controle das Arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde (SES) Daniela Bandeira.
Sobre o elo entre chicungunha e reumatismo, há quem questione se a infecção pelo vírus seria isoladamente a causa da doença reumatológica. A explicação vem de Lilian Azevedo: “Às vezes, a chicungunha mexe tanto com o sistema imunológico a ponto de desencadear outras doenças que talvez não fossem vistas como uma complicação da enfermidade. É como se o vírus mexesse tanto com o sistema autoimune que servisse como um gatilho para doenças como artrite reumatoide e espondilite anquilosante (doença reumática de caráter inflamatório que tem como principal sintoma a dor nas costas)”. Ou seja, essas enfermidades estavam latentes numa pessoa que poderia estar predisposta do ponto de vista imunológico. A chicungunha, então, foi o estopim para despertar um reumatismo que vivia às ocultas no organismo.
“Obviamente que, para as doenças reumáticas, há outros gatilhos, mas talvez elas ficassem ‘silenciosas’ a vida toda (se não fosse a chicungunha)”, esclarece Lilian. Após o início da infecção viral, a pessoa já tem um quadro crônico se entrar no terceiro mês apresentando sintomas, como as inflamações nas juntas. É a partir desse período que a consulta com o reumatologista é primordial.
“Um médico pode fazer avaliação muito detalhada, especialmente para investigar se o quadro de chicungunha evoluiu como doença reumatológica”, frisa Cláudia Marques, que permanece em alerta para o risco de novos surtos. “Prevemos que, em 2018, provavelmente teremos epidemia, se não houver erradicação do mosquito.” Nunca é demais relembrar a lição: não vale baixar a guarda contra o Aedes aegypti.
A importância da fisioterapia
"Para os pacientes infectados pela chicungunha, a fisioterapia não é um tratamento alternativo; é coadjuvante. As pessoas precisam dessa modalidade de tratamento desde o início da doença. Na fase aguda (primeiros 15 dias de infecção), às vezes o paciente não consegue realizar a fisioterapia porque está muito debilitado. Ele sequer aguenta sair da cama. Mas, na fase subaguda (a partir do 15º dia) e principalmente na fase crônica (a partir do 3º mês com sintomas deixados pela chicungunha), a fisioterapia é fundamental. A drenagem linfática também é importante para a retenção de líquido que a gente observa nas pernas e pés dos pacientes", destaca a reumatologista Lilian Azevedo.
Confira a lista completa de unidades que oferecem serviços de fisioterapia na rede pública de saúde do Recife, inclusive para pessoas que adoeceram por chicungunha. É importante lembrar que o paciente precisa ser encaminhado por médicos das unidades de saúde família.
- Clínica de Fisioterapia do Recife - Bairro de Santo Amaro
- Clínica Luiz Borges - Bairro de Paissandu
- Fisioecia.com - Bairro da Madalena
- Hospital Infantil Maria Lucinda - Bairro de Parnamirim
- Instituto de Reabilitação Infantil - Bairro de Santo Amaro
- Unidade Pública de Atendimento Especializado (UPAE) Deputado Antônio Luiz Filho - Bairro do Arruda
- Policlínica Lessa de Andrade - Bairro da Madalena
- Policlínica Agamenon Magalhães - Bairro de Afogados
- Policlínica Amaury Coutinho - Bairro de Campina do Barreto
- Policlínica Salomão Kelner - Bairro da Tamarineira