Saúde

Difteria e coqueluche: baixa cobertura vacinal entre gestantes e crianças em PE preocupa especialistas

Em Pernambuco, a cobertura vacinal está em 89,5% em menores de 1 ano. Entre gestantes, a situação preocupa mais, pois tem taxa de 70%. Adesão deveria ser de 95%

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 25/01/2019 às 10:06
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Em Pernambuco, a cobertura vacinal está em 89,5% em menores de 1 ano. Entre gestantes, a situação preocupa mais, pois tem taxa de 70%. Adesão deveria ser de 95% - FOTO: Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Uma infecção bacteriana grave, fatal em 5% a 10% dos casos, tem preocupado autoridades sanitárias brasileiras: a difteria. Ontem a Organização Pan-Americana da Saúde recomendou que pessoas que viajarão para o Haiti e a Venezuela estejam com a vacinação em dia. Na sexta (18), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já havia recomendado aumentar o número de pessoas vacinadas em todo o Brasil. A advertência foi feita em visita a Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela – o país vive surto desde 2016, com 1.559 casos confirmados até agora, com 270 mortes. “Com a entrada de venezuelanos e o nível baixo de vacina, houve epidemia de sarampo. Se tivermos a nossa população consciente, mesmo que um caso esporádico (de difteria) entre, podemos fazer um isolamento e impedir surtos.”

O cenário requer cautela em Pernambuco: em 2018, a cobertura vacinal para difteria, que deveria ser de 95%, ficou em 89,5% entre os menores de 1 ano. No grupo das gestantes, a situação é preocupa mais, pois tem taxa de 70% (25 pontos percentuais abaixo da meta). Um detalhe é que a vacina contra difteria também protege de coqueluche e tétano. Assim, quem não está imunizado fica susceptível às três doenças. “Uma só pessoa desprotegida é o suficiente para as doenças (como difteria e coqueluche) se disseminarem. Agora, por exemplo, estamos às vésperas do Carnaval, quando o Estado recebe um grande fluxo de pessoas. Com a cobertura abaixo da meta, o risco de aparecimento de casos existe”, orienta a coordenadora do Programa Estadual de Imunização da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Ana Catarina de Melo.

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Em Pernambuco, o último caso da doença aconteceu no ano passado: um adolescente, de 18 anos, residente em Salgueiro, no Sertão, teve a infecção. Em 2017, não houve casos e, em 2016, uma bebê menor de 1 ano, moradora de São Lourenço da Mata, no Grande Recife, teve difteria. Como o Brasil apresentou redução na incidência da difteria por causa da ampliação das coberturas vacinais, a doença se tornou rara. “O quadro clínico não é muito claro, e os médicos jovens não acompanharam casos da infecção. Diante de uma pessoa com sintomas atípicos nos dias de hoje, pode existir dificuldade no diagnóstico”, diz o infectologista Paulo Sérgio Ramos, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador da Fiocruz Pernambuco. Sem detecção precoce da doença, perde-se a oportunidade de fazer bloqueio vacinal em tempo oportuno.

É fundamental reforçar a necessidade da imunização para prevenir também o adoecimento e as complicações da coqueluche, que acometeu pelo menos 200 pessoas (169 casos em menores de 5 anos), em 2018, no Estado. Especialistas se preocupam também com a baixa adesão à vacina dTpa (protege contra difteria, tétano e coqueluche) entre as gestantes. Ao ser imunizada, a mulher grávida transfere anticorpos ao bebê, que fica protegido até completar o esquema vacinal. A analista financeira Amanda Gabriela da Silva, 33, está na segunda gestação, à espera de Matheus. “Já tenho um menino de 3 anos, Samuel, e tomei a dTpa quando estava grávida dele. Agora, repeti a dose porque sei que é importante”, conta Amanda, que também não deixa a caderneta de Samuel desatualizada. “Essa prevenção é essencial”, destaca.

Amanda Gabriela da Silva está na segunda gestação, à espera de Matheus. "Já tenho um menino de 3 anos, Samuel, e tomei a dTpa quando estava grávida dele. Agora, repeti a dose porque sei que é importante", diz (Foto: Leo Motta/JC Imagem)

Entenda o esquema vacinal

2 meses; 4 meses; 6 meses
Pentavalente: Previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, meningite e infecções por HiB – Uma dose em cada um dos meses acima

1 ano e 3 meses; 4 anos
DTP: Previne difteria, tétano e coqueluche – Uma dose de reforço em cada idade acima

10 anos a 60 anos ou mais
Dupla adulto: Previne difteria e tétano – Reforço a cada 10 anos

Gestante
dTpa (tríplice bacteriana acelular do tipo adulto): Previne difteria, tétano e coqueluche – Uma dose a cada gestação a partir da 20ª semana ou até 45 dias após o parto

Entenda as doenças

Coqueluche: Provocada pelo bacilo Bordetella pertussis, compromete traqueia e brônquios. Tosse seca é o principal sinal. Transmissão ocorre pelo contato direto da pessoa doente com outra suscetível por meio de gotículas de secreção eliminadas por tosse, espirro ou fala. Inicialmente os sintomas lembram um resfriado. Com o passar dos dias, a tosse passa de leve e seca para severa e descontrolada

Difteria: Causada por bactéria que se aloja nas amígdalas, faringe, laringe, nariz e ocasionalmente em outras mucosas do corpo, além da pele. Transmitida por meio da tosse, espirro ou por lesões na pele. Entre os sintomas, estão dor de garganta, gânglios inchados no pescoço, dificuldade em respirar, palidez, febre não muito elevada e mal-estar geral

Tétano acidental: Causado pela ação de toxinas produzidas pelo Clostridium tetani, normalmente encontrado na natureza sob a forma de esporo, que pode ser identificado em pele, fezes, terra, galhos, arbustos e trato intestinal dos animais (especialmente do cavalo e do homem, sem causar doença). Entre os sintomas, estão contraturas musculares, rigidez de membros, dificuldade de abrir a boca e de deambular

Tétano neonatal: Doença infecciosa aguda, grave, não contagiosa, que acomete o recém-nascido e que tem como sinal inicial a dificuldade de sucção, irritabilidade e choro constante. É transmitida pela contaminação do coto umbilical com os esporos da bactéria, que podem estar presentes em instrumentos não esterilizados e utilizados para secção do cordão umbilical, como tesoura e fios para laqueadura do cordão

Fonte: Ministério da Saúde

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