Saúde

Ter dengue várias vezes pode proteger contra zika, revela estudo

Estudo, que contou com participação de pesquisador recifense, da Fiocruz Pernambuco, foi publicado na Science nesta quinta-feira

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 07/02/2019 às 17:24
Foto ilustrativa: Pixabay
Segundo o Ministério da Saúde, a mobilização que as equipes de vigilância epidemiológica estaduais realizam diante do enfrentamento à covid-19 pode levar a atraso ou à subnotificação para os casos das arboviroses - FOTO: Foto ilustrativa: Pixabay
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Quanto mais uma pessoa é exposta ao vírus da dengue, menor o risco de infecção pelo zika. É o que revela um estudo publicado, nesta quinta-feira (7), na revista científica Science, por uma equipe de pesquisadores vinculados a instituições dos Estados Unidos: a Escola de Saúde Pública da Universidade de Pittsburgh, a Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale e a Universidade da Flórida. O estudo, que acompanhou quase 1,5 mil pessoas que vivem na comunidade de Pau de Lima, localizada na cidade de Salvador, na Bahia, também traz novas evidências de que, no Brasil, estagnou porque um universo grande de pessoas adquiriram imunidade para reduzir a eficiência na transmissão do vírus.

Ernesto Marques, pesquisador colaborador da Fiocruz Pernambuco, é um dos autores do estudo (Foto: Filipe Jordão/JC Imagem)

“Nossa pesquisa revela que a epidemia de zika, no Brasil, foi intensa, chegando a 70% da população (na região estudada, considerada um dos epicentros do primeiro surto no País, em 2015) e se extinguiu rapidamente”, destaca o médico recifense Ernesto Azevedo Marques, do Departamento de Microbiologia e Doenças Infecciosas da Universidade de Pittsburgh e um dos autores do estudo. Também colaborador do Instituto Aggeu Magalhães, unidade da Fiocruz em Pernambuco, Ernesto explica que, pelos achados do trabalho, é possível inferir que múltiplas infecções naturais por dengue, com altos níveis de anticorpos, leva a uma menor susceptibilidade à infecção por zika.

Proteção

A descoberta contou com testes de dengue e zika desenvolvidos por Ernesto Marques e equipe, patenteados por Pitt. No auge da epidemia de zika, os moradores de Pau de Lima (cerca de 70%) foram expostos ao zika vírus, segundo resultados dos exames feitos em outubro de 2015. Mas um grupo não foi infectado. Assim, ao analisarem as amostras de sangue dessa fatia da comunidade, coletadas antes do surto, pesquisadores constataram que alguns moradores tinham níveis de anticorpos contra dengue bem elevados. Por outro lado, quem tinha baixas taxas de anticorpos tinham um maior risco. Foi esse raciocínio que levou à dedução de que múltiplas exposições a vírus dengue são capazes de dar algum nível de proteção contra zika.

Antes do surto de zika, um subgrupo formado por 642 pessoas, em Pau de Lima, foi submetido a um teste para avaliar se havia sido infectado anteriormente por dengue. Entre esse universo, 86% apresentaram resultados positivos. Especificamente, o teste avaliou o nível de anticorpos que os participantes tinham no sangue contra a dengue. A equipe descobriu que cada duplicação dos níveis de anticorpos contra dengue corresponde a uma redução de 9% no risco de zika. “Isso significa que há anticorpos de proteção cruzada que a dengue fornece contra o zika. Se as vacinas contra dengue vão fazer o mesmo efeito, não sabemos ainda. São necessários outros estudos para avaliar se esses imunizantes podem ser úteis na prevenção da infecção pelo zika vírus”, esclarece Ernesto, que também é diretor científico do Cura Zika, uma aliança internacional voltada à produção de pesquisas sobre zika, microcefalia e outras síndromes congênitas que acometem recém-nascidos.

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