A perda da certificação de eliminação do sarampo pelo Brasil, num cenário atual em que a vacinação contra a doença é segura, eficaz e acessível economicamente, representa atraso e declínio para um País que tem um programa de imunização conhecido como referência internacional de política pública de saúde. Mesmo sem casos, Pernambuco não deve relaxar o rigor das estratégias para elevar taxas de cobertura vacinal da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Em 2018, o Estado só conseguiu chegar à cobertura adequada (102%) da 1ª dose, aplicada aos 12 meses de vida. Para a 2ª dose, dada aos 15 meses, a taxa está em 67% – o ideal é alcançar percentuais a partir de 95% em ambas as aplicações. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) salienta que 15% das crianças vacinadas não conseguem desenvolver imunidade na 1ª dose.
O alerta já havia sido feito, pelo JC, em série de reportagens publicada entre os dias 10 e 12 deste mês. Em uma das entrevistas, a coordenadora do Programa Estadual de Imunização, Ana Catarina de Melo, chegou a chamar a atenção para o problema da proteção incompleta. “Este é um dos nossos maiores problemas: o Estado atinge meta na primeira dose (da tríplice viral) e não alcança na seguinte, que deve ser aplicada aos 15 meses de vida. Essa segunda dose é feita para corrigir qualquer possível falha vacinal que tenha ocorrido na primeira. Quando se tem só uma dose, corre-se risco de adoecer”, destacou. Em Pernambuco, em 2018, foram confirmados quatro casos de sarampo relacionados a um paciente com histórico de viagem para Manaus, no Amazonas, um dos Estados que ainda registram transmissão ativa do vírus.
Procurada ontem para falar sobre a perda da certificação, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) se posicionou por nota, lamentando o fato. “Isso só ressalta a importância de todos continuarem trabalhando para ampliar as coberturas vacinais, não só contra enfermidade, mas contra outras doenças.”
Vulneráveis
O infectologista Paulo Sérgio Ramos sublinha que a baixa cobertura na segunda dose da tríplice representa risco porque denota que há uma fatia da população imunologicamente vulnerável a ter sarampo. “Sem atingir meta na segunda dose, Pernambuco tem risco de reintrodução do vírus. Para se estar adequadamente imunizadas, as pessoas abaixo de 30 anos devem ter recebido duas aplicações da vacina. Se a cobertura não está satisfatória, há chance de se ter sarampo, no Estado, com a mesma incidência do passado”, frisa.
A estudante de enfermagem Ysadora Christina Silva, 19 anos, foi ontem à Policlínica Lessa de Andrade, na Madalena, Zona Oeste do Recife, para tomar a tríplice viral. “Preciso me proteger para estagiar. Estarei em contato com pacientes. É obrigatório estar em dia com as vacinas”, disse.