A morte de uma adolescente de 12 anos pelo vírus da dengue tipo 1, no bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife, traz à tona a predominância de casos de arboviroses em crianças e adolescentes. Outro óbito, de uma menina de 6 anos, no Caçote, Zona Oeste, está sendo investigado pela Secretaria de Saúde do Recife (Sesau). Em Pernambuco, as notificações subiram mais de 100% com relação ao mesmo período do ano passado.
Dos 10 óbitos registrados por suspeita de arboviroses (dengue, zika e chicungunha), este ano, dois são referentes a crianças e adolescentes. Ambos notificados no mês de abril. Ainda não há previsão para o resultado dos exames que podem confirmar ou descartar a morte da menina de 6 anos por alguma das arboviroses, mas sabe-se que as áreas onde residiam as duas vítimas estão entre os bairros com maior incidência de mosquitos. “O nosso mapeamento segue a linha do racionamento d’água. Os bairros da Zona Norte e da Zona Oeste do Recife, o que inclui Água Fria e Caçote, possuem dificuldade de abastecimento e por isso apresentam índice diferenciado de infestação. Apesar disso, esse índice, no Recife, em 2019 está mais baixo que o do ano passado”, comenta o gerente de Vigilância Ambiental do Recife, Jurandir Almeida.
Na contramão da redução na infestação, a cidade registrou aumento nas notificações de casos em comparação com o mesmo período do ano passado. “No geral, os casos notificados aumentaram 14,2% em relação ao mesmo período de 2018. Como as arboviroses são cíclicas e a incidência tem relação com a sazonalidade da doença, no período chuvoso a gente prevê um aumento no número de vetores e casos”, explica a gerente de Vigilância Epidemiológica do Recife, Natália Barros. No recorte de crianças e adolescentes (de 0 a 19 anos) o aumento nas notificações de arboviroses foi de 74%. Nas confirmações, chegou a 29,68%.
Ainda segundo Natália Barros, esse grupo e o de idosos têm maiores chances de apresentar complicações no quadro de arboviroses. “Crianças estão mais suscetíveis porque não tiveram contato anterior com alguns subtipos dos vírus que estão circulando. Idosos também entram no grupo de preocupação por problemas como doenças crônicas e imunidade baixa. Existe uma chance maior deles desenvolverem o modo mais grave da doença e por isso reforçamos a importância de procurar o serviço de saúde assim que surgirem os primeiros sintomas”.
Moradores em alerta
A dona de casa Rosinere Cosmo Sales mora em Água Fria, bairro da Zona Norte do Recife onde foi registrado este ano o primeiro óbito por dengue. Ela nunca teve nenhuma arbovirose, mas vizinhas já tiveram e, por isso, ela toma todos os cuidados possíveis para evitar o Aedes aegypti. “Ultimamente tenho ouvido falar menos, mas fico sempre atenta para não juntar água. Quando os agentes passam aqui, de mês em mês mais ou menos, sempre deixo entrarem e procuro saber formas de evitar os mosquitos na minha casa”, conta.
Moradora do mesmo bairro, a aposentada Yolanda Gláucia Gomes até hoje sente as sequelas deixadas pela chicungunha que a acometeu há quatro anos. Na época, as dores nas articulações fizeram com que ela deixasse o emprego de operadora de caixa. “Foi horrível, eu sou diabética e tive muitas complicações. Passei 33 dias internada e fui até para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Depois disso, todo cuidado ainda é pouco. Não deixo nenhum recipiente juntar água porque sei como sofri”, lembra.
Cerca de 600 agentes atuam diariamente indo de casa em casa nos bairros do Recife, segundo o gerente de Vigilância Ambiental do Recife, Jurandir Almeida. Quando há notificação de óbito por suspeita, antes mesmo da confirmação, o gerente garante que as equipes passam a trabalhar com o esquema de bloqueio, que consiste em atuar diretamente na área provável de transmissão para reduzir a população adulta do mosquito.
Esta foi a primeira morte confirmada por arbovirose no Estado. Só este ano, Pernambuco já teve 32.952 notificações de dengue, 4.407 de chicungunha e 2.195 de zika. Desse total, os resultados foram positivos para 6.901 casos de dengue,191 de chicungunha e 43 de zika. Outros 55 óbitos estão em investigação. No ano passado, no mesmo período, foram notificadas 52 mortes suspeitas para arboviroses, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES).