Saúde

Faltam leites especiais para crianças com microcefalia de Jaboatão

Município do Grande Recife está, há seis meses, sem oferecer produtos nutricionais essenciais para o desenvolvimento das crianças com microcefalia causada por zika

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 09/07/2019 às 10:59
Foto: Paloma Arquino/Divulgação
Município do Grande Recife está, há seis meses, sem oferecer produtos nutricionais essenciais para o desenvolvimento das crianças com microcefalia causada por zika - FOTO: Foto: Paloma Arquino/Divulgação
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Mães de crianças com microcefalia causada por zika denunciam a falta de leites especiais e suplementos nutricionais que deveriam ser distribuídos pelo município de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Os produtos, indicados para melhorar a condição nutricional capaz de garantir o desenvolvimento adequado, não são distribuídos a famílias cadastradas desde janeiro deste ano. Os suplementos, associados à orientação de especialistas, auxiliam a criança que não come adequadamente a atingir o potencial de crescimento saudável. “O valor de cada lata depende da marca e varia de 60 a 75 reais. O meu filho precisa de 14 unidades por mês, mas há outras crianças com GTT (sigla para gastrostomia – procedimento cirúrgico para a fixação de uma sonda alimentar) que chegam a necessitar de 25 latas mensalmente. É um custo muito alto”, diz a presidente da União de Mães de Anjos (UMA), Germana Soares, 28 anos, mãe de Guilherme, 3 anos e 8 meses, moradora de Jaboatão dos Guararapes.

A gastrostomia, mencionada por ela, é uma via alternativa de alimentação. Através dela podem ser administradas dietas específicas para a nutrição de pacientes que não podem ser alimentados pela boca. A UMA, localizada no Barro, Zona Oeste do Recife, acolhe mais de 400 famílias das crianças afetadas pelo zika em Pernambuco e tem exigido da Prefeitura de Jaboatão de Guararapes o fornecimento dos produtos. “A gente se mobiliza, mas até agora não há previsão para entrega dos suplementos. Infelizmente, por causa desse problema, alguns meninos e meninas com gastrostomia têm até deixado de frequentar as escolas do município, que também não têm recebido o produto. São crianças que usam sonda, único meio para alimentação. As demais continuam indo às escolas porque conseguem comer outros alimentos”, acrescenta Germana.

Passados quatro anos do nascimentos dos primeiros bebês com a síndrome congênita do zika, especialistas já observaram criteriosamente que parte das crianças com essa condição manifesta recusa alimentar, negação para ingerir alimento ou consumo em poucas quantidades, o que exige a prescrição dos suplementos alimentares. Sem o produto, elas podem ter baixo ganho de peso e restrição de crescimento. “Durante esse período, nós contamos com doações. Quando as mães não conseguem comprar, outra alternativa é usar qualquer leite mesmo (os tradicionais, que não são o ideal para as crianças que não se alimentam adequadamente).”

Também moradora de Jaboatão, a dona de casa Daniele Amarante, 22, lamenta a falta dos suplementos no município. Ela é mãe de Thalles, 3 anos e 6 meses, que nasceu com síndrome congênita do zika e precisa do produto para se desenvolver de forma saudável. “Uso um que é à base de soja. Cada lata custa 60 reais, e a médica prescreveu 13 unidades por mês para o meu filho. Só ontem gastei 240 reais porque ainda não consegui receber da prefeitura. Estou usando o dinheiro do benefício para comprar, mas é complicado porque ainda tem os gastos com remédios e fraldas”, conta Daniele.

Promessa

Questionada sobre a falta dos suplementos nutricionais, a prefeitura enviou nota para informar que a empresa vencedora da licitação para distribuir um dos produtos “não cumpriu o contrato e foi notificada. A segunda colocada no processo licitatório está sendo convocada, e a previsão é de que a distribuição do suplemento seja regularizada no prazo máximo de 20 dias”.

Sobre um dos produtos à base de soja, a assessoria da Secretaria de Saúde de Jaboatão dos Guararapes afirma que uma das marcas “não integra a lista de suplementos oferecidos pela prefeitura” e que o município realiza o fornecimento de outra opção, também à base de soja. A assessoria não respondeu se a entrega desse produto está regularizada.

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