Não se iluda: a pompa do Santa Isabel, os ternos e as gravatas que compõem o figurino da primeira cena são apenas ilusão e mais uma provocação do Magiluth. O grupo está pronto para desconstruir e reconstruir (no melhor dos sentidos) a obra de Nelson Rodrigues a partir de um olhar próprio e da pura experimentação de linguagem. Neste domingo (19), às 17h, eles voltam ao Recife depois de dois meses entre São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, para apresentar a tão esperada versão de Viúva, porém honesta, que marca a abertura do evento literário A Letra e a Voz.
“Todas as falas usadas em cena são do próprio Nelson, estão todas no texto original. Só vamos falar com o nosso jeito”, adianta Pedro Vilela, diretor da montagem. O convite para o grupo participar do festival surgiu através da Prefeitura do Recife, no início do ano. A ideia a princípio era encenar A vida como ela é, mas os rapazes preferiram a dramaturgia e fugiram da tragédia rodriguiana. “Viúva tem uma essência de farsa, que provoca quem assiste, no sentido de brincar com o real e o falso, o ator e o não ator. E isso tem muito a ver com a cara do Magiluth, por isso escolhemos esse texto.”
O enredo é sobre o Dr. J.B. de Albuquerque Guimarães, um poderoso diretor de jornal, que tenta convencer sua filha a deixar o luto após a morte do marido e voltar a ter uma vida normal. Já que não consegue, o homem vai atrás de ajuda e contrata uma ex-prostituta, um psicanalista e um otorrinolaringologista para dissuadi-la da ideia e voltar a querer se casar. Tudo em vão. O único jeito de a moça deixar de ser viúva é ressuscitar o marido. Aí entra em cena o diabo para conseguir a proeza.
A versão do Magiluth para Viúva, porém honesta foi montada em São Paulo, enquanto o grupo participava da mostra Nova cena nordestina. Com edital aprovado na Funarte, em abril, durante dois meses na cidade, os rapazes criaram a peça, em um processo que contou com ensaios abertos acompanhados de parceiros de outras companhias nacionais. “Tivemos o mesmo tempo que Nelson teve para preparar o texto: cerca de dois meses”, lembra Vilela. “Geralmente passávamos nove meses para montar nossos espetáculos.”
Leia a matéria completa no Caderno C deste domingo (19).