“Morreu em extrema pobreza o mestre da cerâmica popular”. Uma das manchetes do Jornal do Commercio do dia 22 de janeiro de 1963 estampava em negrito e caixa alta a morte do maior ícone da representatividade popular do Nordeste brasileiro. Dois dias antes, morria em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, o mestre Vitalino, pobre ao mesmo tempo em que tinha ganhado fama no mundo inteiro com suas peças de barro.
Vitalino Pereira dos Santos, nascido em 1909, em Caruaru, morreu na madrugada de um domingo, na sua casa de taipa, onde hoje fica Casa-Museu Mestre Vitalino, no Alto do Moura. Ele tinha varíola e estava acamado há dez dias. A matéria do JC da página 3, que detalhava a morte do artesão.
“Meu pai morreu no dia de São Sebastião, o seu santo. Morreu às 10h do domingo e foi enterrado às 15h. Foi um dia muito rápido. Graças ao prefeito de Caruaru, daquela época, João Lyra Filho, ele foi enterrado no cemitério da cidade. Senão teria sido enterrado como indigente, que era o que acontecia com quem tinha varíola”, lembra Severino Vitalino, filho do mestre, que hoje está à frente da Casa-Museu e que mantém a tradição da fabricação de bonecos de barro.
As últimas obras de Vitalino foram feitas no dia 8 de janeiro de 1963: quatro touros, exposto em Nova Iorque e vendidos por 15 dólares, cada um. A matéria da morte do artesão mostrava que a família de Vitalino disse que tentou pedir ajuda para socorrer o pai, mas nenhuma autoridade quis ajudar, com medo de pegar a doença. O vereador Aristides Veras disse à reportagem, na época, que só ficou sabendo da situação do mestre no sábado, véspera da morte, através do ceramista e vizinho de Vitalino, José Caboclo. Após 50 anos, Severino desmente. Diz que seu pai não foi abandonado. “O prefeito ajudou e conversou com a família”, recorda
Casado com Joana Maria da Conceição, Vitalino Pereira teve cinco filhos, que hoje dão prosseguimento à produção das figura de barros, reproduzindo a cultura, os comportamentos e a tradição do povo nordestino. Na família, hoje, são mais de 50 pessoas envolvidas com o artesanato. No vilarejo do Alto do Moura, onde Vitalino influenciou muitos artistas, são mais de 500 artesãos que criam peças inspiradas nas do mestre. “Meu pai foi um homem humilde. Se hoje o nome dele é riqueza, naquela época ele morreu estava pobre. Mas também foi o homem mais rico, na minha opinião, porque foi um dos responsáveis por fazer Caruaru crescer e ser reconhecida.”
Leia a matéria completa no Caderno C deste domingo (20)