Estreia

Espetáculo mexe com a morte que ronda a identidade brasileira

"As confrarias" estreia neste domingo (8), no Barreto Júnior. Montagem é a segunda parte da trilogia da Cia. Seraphim

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 09/06/2013 às 6:15
Hans Von Manteuffel / divulgação
FOTO: Hans Von Manteuffel / divulgação
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Vinte anos se passaram desde que a Companhia Teatro de Seraphim iniciou sua trilogia da identidade brasileira. De lá para cá, eles deram uma “pausa” – entre aspas porque nesse ínterim, o grupo fez outras montagens paralelas à tríade escolhida no início dos anos 1990 como base de trabalho. Duas décadas separam a premiada Senhora dos Afogados de As confrarias, peça dirigida por Antônio Cadengue, que estreia hoje no Teatro Barreto Júnior, às 20h, onde fica em cartaz até o final de junho, de quinta a domingo (exceto dia 23), com ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia).

O texto é de Jorge Andrade, um dos principais autores nacionais, que fincou sua dramaturgia na cerne do Brasil cafeeiro. Em cena, um grande elenco de 14 atores (marca inegável de Cadengue) desfia a história de uma mãe que vela o corpo do filho, um ator, e da recusa das confrarias em enterrá-lo, por ele não pertencer a nenhuma delas. A família em contraponto à riqueza das Ordens Católicas levanta os questionamentos das leis opressoras, das injustiças e dos preconceitos sociais àquela época (século 19) e na atualidade. Com o texto, escrito em 1969, o autor alfineta a ditadura e a repressão que o Brasil vivia fazendo alusão ao País dos coronéis das plantações. 

Hans Von Manteuffel / divulgação
Texto foi escrito por Jorge Andrade em 1969 e pela primeira vez é montado no Brasil - Hans Von Manteuffel / divulgação
Hans Von Manteuffel / divulgação
Texto foi escrito por Jorge Andrade em 1969 e pela primeira vez é montado no Brasil - Hans Von Manteuffel / divulgação
Hans Von Manteuffel / divulgação
Texto foi escrito por Jorge Andrade em 1969 e pela primeira vez é montado no Brasil - Hans Von Manteuffel / divulgação
Hans Von Manteuffel / divulgação
Texto foi escrito por Jorge Andrade em 1969 e pela primeira vez é montado no Brasil - Hans Von Manteuffel / divulgação
Hans Von Manteuffel / divulgação
Texto foi escrito por Jorge Andrade em 1969 e pela primeira vez é montado no Brasil - Hans Von Manteuffel / divulgação
Hans Von Manteuffel / divulgação
Texto foi escrito por Jorge Andrade em 1969 e pela primeira vez é montado no Brasil - Hans Von Manteuffel / divulgação
Hans Von Manteuffel / divulgação
Texto foi escrito por Jorge Andrade em 1969 e pela primeira vez é montado no Brasil - Hans Von Manteuffel / divulgação
Hans Von Manteuffel / divulgação
Texto foi escrito por Jorge Andrade em 1969 e pela primeira vez é montado no Brasil - Hans Von Manteuffel / divulgação

 

“As confrarias vai buscar a memória da sociedade, ouvir os sinais do passado. Tem muito a ver com o nosso presente: a intolerância religiosa, a sensualidade, a hipocrisia das instituições, o poder apodrecido dentro dos universos”, explica Cadengue. “É, ao mesmo tempo, uma peça que celebra a teatralidade”. Com metalinguagem, o espetáculo mexe com a estrutura teatral, usando elementos do pensamento brechtiano, como estranhamentos no público, e também o recurso de flashbacks encadeados entre o passado e o presente da protagonista.

A montagem de agora é uma parceira entre o diretor e a atriz e produtora Lúcia Machado. Ela foi a proponente do projeto junto ao Fundo de Incentivo à Cultura (Funcultura), contemplado com uma verba de R$ 100 mil (“Essa verba pública é só um ponto de partida, já que o espetáculo vai custar muito mais caro do que isso”, diz Lúcia). “Eu queria voltar a trabalhar com Cadengue. Ele me chamou, mas eu disse que só queria voltar se fosse uma coisa que me desse muito tesão em fazer. Abrimos o baú e resolvemos dar continuidade ao trabalho iniciado há 20 anos”, conta a atriz.

O elenco da Cia. Seraphim é heterogêneo: mistura novos atores a veteranos do palco pernambucanos. Lúcia Machado, por exemplo, a mais antiga em cena, além de esbanjar gentileza com os parceiros de trabalho, não esconder a satisfação de participar do espetáculo, fez da peça a celebração de uma amizade. Graças a um convite dela, a atriz Nilza Lisboa volta à cena quase 20 anos depois de ter largado os palcos pelos bastidores dos sets de gravação. 

“Lúcia me ligou, dizendo que estava com Nilza em São Paulo e disse que queria ela no elenco da peça”, lembra Cadengue. “Não havia mais papel feminino, e ela disse: ‘eu posso dividir meu papel com ela’. Como Marta (protagonista de As confrarias) se divide em dois momentos, elas estão se revezando em cena.”

Ao lado de Nilza e Lúcia estão atores como Rudimar Constâncio, dirigido pela primeira vez por Cadengue. “Ele tem um método muito curioso de direção. Nos dá caminhos para criarmos os personagens, estimula leituras e no palco cobra isso”, diz o ator. Completam o elenco, entre outro: Carlos Lira, Marcelino Dias, Ivo Barreto, Brenda Lígia, Roberto Beltrão e Gilson Paz. 

Leia a matéria completa no Caderno C deste domingo (9).

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