7 Conto

Luis Miranda conquista público com humor crítico

Ator baiano uniu humor de ponta à crítica social aguda em temporada no RioMar

Bruno Albertim
Cadastrado por
Bruno Albertim
Publicado em 19/10/2014 às 22:24
Leitura:


Se não cria, Luis Miranda, no  mínimo, consolida um gênero teatral no Brasil:o besteirol crítico - ainda que seja praticamente o único no País a praticá-lo. No espetáculo 7 conto, apresentado sábado e domingo no Teatro RioMar, pela primeira vez no Recife depois de quase sete anos de estrada pelo País, ele harmoniza opostos aparentemente incongruentes: a leveza da comédia de costumes com um ensaio sociológico vertiginosamente agudo sobre novas e velhas mazelas da vida social brasileira.

A estrutura é simples: sozinho, com cenas entrecortadas e costuradas por recursos em vídeo que não têm muito mais do que a função de distrair o público para suas trocas de roupa, Miranda se alterna em  sete personagens. Do guardador de carros de rua baiano a uma perua bêbada que mal sabe onde fica o Brasil onde nasceu, se aproria e subverte alguns clichês para dar conta dessa malfadada democracia continental.

Os textos, do próprio ator, tem a aparente simplicidade de se  apropriar (das) e redimensionar as prosódias populares. Em sua grandeza de ator, essas falas ganham uma comicidade vertigiosamente veloz. Ele começa o espetáculo na própria plateia, fazendo o guardador de carros bêbado que, com sua ótica privilegiada, sabe explicar de uma maneira muito própria as dinâmicas brasileiras. Depois, emulando um velho musical hollywoodiano, dá corpo à menininha negra de tranças loiras que sofre bullyng na escola porque não tem, nem terá, referências de personagens negros nas histórias infantis, filmes e programas de TV. Como negra, terá sempre, nas tertúlias escolares, que representar "personagens do folclore". A plateia vem abaixo, e ri de si mesma, quando ele falseteia a voz para emular uma pequena Dorothy que nunca caberá em sua pele escura.

Há também o apresentador de TV que defende os direitos da sofrida elite brasileira. O espetáculo foi reforçado com várias referências à política local pernambucana. Como, por exemplo, quando o tal apresentador sugere que se fale de "jatinhos" e depois se desculpa "porque o pernambucano, afinal,não gosta de falar de jatinhos".  Com a piada na boca do estômago, a platei vem abaixo em garlhadas outra vez. Muitas delas nervosas.

No repertório, estão também velhos personagens de Miranda, como a líder comunitáaria Edite e a socialiate Sheila, retemperados desde a época em que Miranda integrava o coletivo Terça Insana.  Não falta acidez também contra o racismo da própria TV que ele integra. "A Xuxa? A Xuxa nunca gostou de preto...não vê o Pelé? Foi só passagem", diz a dona Edite que se refere aos vários filhos como pequenos exus domésticos.
Ainda que tenha seu humor domesticado e aparado pela TV onde se torna conhecido do grande público, Luis

Miranda tem seu lugar garantido na grande história do teatro brasileiro. O ator personifica uma das grandes esquinas onde a inteligência corajosa e bem informada encontra o humor de massas. Sua sociologia cênica deveria ser - e é - cadeira obrigatória para novos expoentes do politicamente incorreto com imensa responsabilidade como a galera do Porta dos fundos. Miranda é grande.

Últimas notícias