Se há uma definição perfeita para a Paixão de Cristo do Recife, essa definição é persistência. Desse modo, lutando ano após ano, com muito amor e dedicação, o ator e diretor José Pimentel reconstrói com seu elenco de amigos os últimos momentos de vida do Nazareno, símbolo do cristianismo, que morreu há quase dois mil anos, numa das encenações mais conhecidas do Estado. Amanhã, Pimentel estreia a 19ª temporada da peça, com sessões até domingo, sempre às 20h, na Praça do Marco Zero, Bairro do Recife, e acesso gratuito.
“Está quase tudo pronto para a encenação. A estrutura do cenário já está armada. Anteontem, ensaiamos as dublagens; ontem e hoje, ensaiamos com os cenário armados, as passagens”, explica José Pimentel, que há 47 anos dirige a encenação do calvário de Cristo, interpretando Jesus há 38. “Domingo, fiz um ensaio, mesmo com chuva, que atrapalhou um pouco, mas fiz. Mas ocorreu tudo bem, o elenco já está todo em sintonia”, diz ele.
Pimentel é multifunção no seu espetáculo. Familiarizado com a tecnologia do programa de edição, é ele mesmo o responsável pela gravação e edição do áudio usado pelos atores na dublagem. Já uma figura mítica no imaginário popular e no teatro pernambucano, o diretor e ator faz da sua montagem uma prova de resistência. Por telefone, enquanto dá entrevista e se prepara para mais um dia de ensaio, o ator confessa estar cansado. “Não sou nenhum menino de 20 anos. O tempo é inexorável. Você vai sentindo o risco. Tive uma gripe recentemente, e domingo levei chuva. A chuva veio todinha nas costas. Antes, já tinha ido jogar futebol. Hoje estou cansado”, conta ele. A voz não escondia: Pimentel estava mesmo ofegante. “Eu brinco dizendo que o próximo Cristo vai ser meu bisneto, que está com 1 ano: José Pimentel Asfora.”
Não há mudanças significavas nas apresentações deste ano. José Pimentel escreveu um roteiro a partir do texto bíblico, com quinze cenas. As passagens ocupam três estruturas de cenários armados no Marco Zero, com cerca de 30 metros de cumprimento. Apenas dois novos atores foram acrescentados nesta temporada: Pietro Francisco assume os postos de Pilatos e Nicodemus; e Sérgio Pimentel (sobrinho do diretor) passa a viver um dos demônios que tentam Jesus. “Dois atores precisaram sair. Aproveitamos, então, outros artistas do elenco, que já conheciam o texto”, diz José Pimentel.
As melhorias nos cenários e figurinos que Pimentel queria fazer este ano não foram possíveis, por falta de recursos. “No próximo ano, queremos mudar a forma de captação para não ficar tão dependente de governo e prefeitura”. A peça recebeu R$ 300 mil da prefeitura e R$ 250 do Estado. Além de mais R$ 30 mil da Confederação Nacional da Indústria.
Assim como em 2014, Pimentel também não vai encenar trechos da peça em Olinda, em frente à Igreja do Carmo, na entrada do Sítio Histórico. “Tinha certeza que íamos fazer neste ano, ainda cheguei a preparar a trilha. Fizemos um monte de documentos para entregar à Fundarpe, mas não conseguimos a verba”, explica o diretor. “Estou até gostando, porque me cansava demais. Não era o espetáculo completo, mas era feito na colina, na frente da igreja, e isso trabalhávamos com cuidado para não cair. Mas já estava acostumado com essa maratona”, completa.