Inspirado nas obras das autoras Carolina Maria de Jesus (1914-1977) e Elisa Lucinda, 57 anos, estreia amanhã, no Recife, o espetáculo Olhos de café quente, com direção de Quiercles Santana. A montagem entra em cartaz no Teatro Hermilo Borba Filho, onde cumpre temporada de sexta a domingo (até o dia 10), sempre com sessões às 20h.
Carolina, que era mineira, pertenceu a família de negros analfabetos. Pobre, catadora de lixo e mãe solteira, ela surpreendeu o País e o exterior com um livro autobiográfico, publicado em 1957, chamado Quarto de despejo: diário de uma favelada – um marco da literatura brasileira que revela a vida de exclusão que ela viveu e viu outros viverem. Já Elisa, capixaba, é poetisa, jornalista, cantora e atriz. Também negra, faz de sua obra uma crônica de valorização da poesia do cotidiana contemporânea.
Em Olhos de café quente, a vida dessas duas mulheres se entrecruzam, através da interpretação da atriz Soraya Silva. O espetáculo, classificado pela direção como “uma obra para dimensionar o valor desta história ainda comum a todos nós”, fará um contraponto entre universos e contextos históricos distintos que, ao mesmo tempo, unem essas duas personalidades.
O trabalho é um monólogo – o primeiro interpretado por Soraya. No centro da dramaturgia, o universo dos tantos preconceitos diários, camuflados e perigosos que a afiada lamina social corta e fere, por vezes, fatalmente.
A peça começou a ser criada há dois anos e cumprirá uma curta temporada no Hermilo, com seis apresentações. Depois segue para encenações na Itália.