O público de teatro andava meio sumido no Recife, mas naquele janeiro de 2007, muita gente teve que voltar da porta do Teatro Apolo. Quem não comprasse com antecedência ou chegasse cedo não consegueria ingressos para assistir à Ópera, a bem-sucedida montagem do Coletivo Angu de Teatro sobre os textos de temática deliberademente gay do dramaturgo pernambucano radicado em São Paulo Newton Moreno. Este ano, Ópera deve voltar: não só aos palcos, mas também em formato de livro.
“Eu já tinha tentado viabiliszar o livro através de vários editais e não consegui. Resolvi, então, esperar para lançar com os meninos (do Coletivo Angu), aqui no Recife, onde a peça teve sua estreia nacionalmente”, diz Moreno, de passagem pelo Recife, onde veio visitar a família e onde também tem colhido muitos elogios pela atual fase profissional.
Com Guel Arraes e o carioca Claudio Paiva, Moreno é um dos autores da elogiada série Amorteamo (Rede Globo), com uma trama sobre um Recife mal-assombrado do começo do século passado, com histórias de amor entre vivos e mortos. “Estou adorando ver a série na TV, não tinha visto na edição. Adoro a linguagem do melodrama e poder exercitá-lo na TV, com uma linguagem cheia de boas referências cinematográficas, é muito bom”, ele diz.
Ópera, a peça, era esfuziantemente gay. Com um cruzamento estético entre a sexualidade e o teatro cômico, poético e marginal, a peça de quatro movimentos era pontuada por números musicais com grande referência ao teatro de revistas e de travestis e grande parte do espírito do Vivencial Diversiones, a trupe musico-teatral que fez história em Olinda nos anos 1970. “Adoro o espetáculo, gosto da linguagem, assumidamente gay, com uma pegada muito legal de colocar histórias homoafetivas em linguagens onde elas nao aparecem. Era tudo muito subversivo e, ao mesmo tempo, respeitoso, com esse universo gay.”
Na primeira cena, por exemplo, uma trupe de atores de rádio-novela interpretava o drama de uma tradicional família patriarcal pernambucana diante da descoberta da homossexualidade do cachorrinho doméstico. O espetáculo transbodava homossexualidade em cada respiração. Mas Ópera, o livro, não é uma obra gay. “É, na verdade, uma obra de contos sobre amores desmedidos, rasgados, exagerados”, diz Moreno.
Apenas quatro dos 21 contos versam sobre homossexualidade. Único livro de contos do dramaturgo que já coleciona boa quantidade de prêmios, como o Shell e o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Ópera não foi escrita de uma só vez. “Os contos foram surgindo aos poucos, sem um objetivo definido. Talvez, por isso, tenha demorado tanto pra ser lançado.”
Com produção de Daniela Varjal, do Coletivo Angu, o livro teve edição aprovada pelo Funcultura e será lançado até o fim do ano. Para comemorar, haverá também uma minitemporada da encenação. “Estamos tentando viabilizar a temporada no fim do ano”, diz o produtor do Coletivo Angu de Teatro, Tadeu Gondim. “É um espetáculo com vários cenários e equipe grande, relativamente caro”, diz ele, sobre a montagem, que traz no elenco Arilson Lopes, Carlos Ferrera, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni, Dirceu Siqueira e Ellen Roche.