Flávia de Gusmão
A partir da abertura, quando uma silhueta feminina surge num patamar mais elevado e ouve-se ao fundo a canção Fascinação, a plateia já estava rendida. Elis Regina a incluiu no disco Falso Brilhante, lançado em 1976, ponto alto de uma carreira curta, mas tão recheada de sucessos que o pouco tempo da cantora entre nós (morreu em 1982, antes de completar 37 anos) foi compensado pela força que ela conseguiu imprimir – em seus contemporâneos e naqueles que os sucederam.
O espetáculo Elis, A Musical, que fez sua estreia sábado (02/04) no Recife e segue em cartaz neste domingo (03/04), no Teatro Guararapes, conta, em duas horas, com intervalo de 15 minutos, a trajetória meteórica da cantora gaúcha, de estatura diminuta e personalidade gigante, que era fã de Ângela Maria e devotou sua vida a fazer aquilo que ela sabia ser sua vocação e força: cantar.
Na apresentação que consta no programa distribuído, o diretor Dennis Carvalho deixa claro que ali não veremos um documentário, mas uma homenagem “feita com muito amor e emoção, sem se preocupar com comparações e com a fidelidade a alguns fatos da vida real”. O texto que ancora a montagem foi escrito por Nelson Motta e Patricia Andrade, que já preparavam um roteiro sobre a vida da cantora para o cinema. Como amigo e produtor, Nelson acompanhou de perto a vida e carreira de Elis.
Costurada com canções icônicas, diálogos curtos, coreografia vigorosa, na qual cenário e luzes também bailam, uma pitada de humor, outra de nostalgia e lirismo, pronto. Vida e obra da Pimentinha passam como um raio diante dos olhos de um público que ora suspira, ora aplaude em cena aberta, ora canta junto. São cerca de 40 interpretações – na íntegra ou como vinhetas – que sublinham elementos fundadores do mito Elis: sua volatilidade emocional, sua genialidade interpretativa, sua inusitada consciência corporal e um senso de humor que empacotava tudo isso de forma única.
A extensiva preparação dos atores-cantores em cena é perceptível. Os 80 dias de preparo, com aulas de canto, interpretação e expressão corporal, deram consistência àqueles que protagonizam a narrativa. Na turnê de 2016, Lilian Menezes interpreta Elis Regina com incrível verossimilhança, contando o elenco ainda com Claudio Lins, como Cesar Camargo Mariano, e Marcelo Várzea como Ronaldo Bôscoli, maridos de Elis; Leo Sena como Luiz Carlos Miéle; Rafael de Castro como Marcos Lázaro; Ícaro Silva, como um inigualável Jair Rodrigues e Leandro Melo, como Lennie Dale.
Elis, A Musical - Domingo, 3/04, 19h, no Teatro Guararapes, Centro de Convenções. Informações: 3182-8020