'Branco O Cheiro do Lírio e do Formol' e o teatro que incomoda
Peça de Alexandre Dal Farra ganha sessão no Teatro Hermilo Borba Filho
A dramaturgia do paulista Alexandre Dal Farra tenta ir na contramão de tendências que buscam fazer da cena um espaço quase didático. Motivado pela disrupção, por vasculhar as gavetas em busca dos segredos incômodos, ele tem ciência de que seus trabalhos jamais serão motivo de consenso – e não tem o menor interesse em que sejam. De sua elogiada produção, Branco – O Cheiro do Lírio e do Formol, que estreou na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, é, sem dúvidas, a que mais causou discordâncias. A obra ganha sessão hoje, às 20h, no Teatro Apolo, e amanhã, às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (Caruaru), dentro do 27º Feteag
Nascida do desejo do dramaturgo de investigar engrenagens do racismo, lançando o olhar para aqueles que são privilegiados por esse sistema de opressão, os brancos, a peça acompanha uma família de classe média, interpretada por Clayton Mariano, André Capuano e Janaina Leite, que dirige a obra. Os preconceitos reproduzidos por esses personagens e suas dificuldades de reconhecê-los permeiam a dramaturgia. Entre as críticas dirigidas ao espetáculo estava justamente a ausência de negros em cena.
“Acho que o ponto de partida segundo o qual se alguém performa-se em cena esse alguém afirma-se, dificultou um pouco a leitura da para algumas pessoas. Alguns tenderam a ver que por, haver brancos em cena, significava uma autoafirmação de que o ponto de vista do branco é o que importa. Mas vejo que a arte não é tão unilateral, não é só afirmação. Para mim, o nossos posicionamento não é de autoafirmação, mas de autodestruição. É uma arte que tem gosto por mover coisas e não por afirmar; destruir e não dizer o que deve ser feito”, afirma Dal Farra.
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TOCANDO NA FERIDA
Para o dramaturgo, essa tendência de autoafirmação de discursos através da arte é uma tendência que tem ganhado força no país e, em certa medida, alimenta discursos totalitários tanto da direita quanto da esquerda.
“Passamos por um momento em que se vê a arte como se fosse um tipo de o do posicionamento do artista. Não existe espaço para uma arte que pretenda se colocar de forma contraditória ou que tente olhar para aquilo que é ruim, aquilo de que não nos orgulhamos, mas que também faz parte de nós”, reflete.
Antes da apresentação de Branco, o griot François Moïse Bamba apresenta Contes et Legendes du Burkina Faso, às 18h, no Teatro Hermilo Borba Filho. No intervalo entre as apresentações, o público pode conferir a “brincadeira” do Boi Marinho, liderado pelo brincante, músico e ator Helder Vasconcelos, no foyer dos teatros.