Na nossa sociedade, o conceito de lixo é tudo aquilo que não presta mais, que precisa ser descartado, eliminado. Essa concepção, no entanto, é simplista e, mais ainda, perigosa. Ainda mais atualmente, quando o descarte de resíduos sólidos de maneira irresponsável tem mostrado seus efeitos, com danos profundos ao ecossistema. Como, então, mudar a cultura do descarte, incentivando ações mais conscientes? Esse é o desafio do projeto Relix, que inicia nova etapa em Pernambuco, utilizando a arte como recursos educativo, a exemplo do Espetaculix, montagem que abre a programação, nesta terça-feira (31), no Teatro Santa Isabel.
Idealizada da produtora Lina Rosa Vieira, com apoio do Sesi, a iniciativa estreou em Pernambuco, em 2014, posteriormente seguindo para Alagoas. Para Lina, o projeto agora retorna a Pernambuco mais maduro. “O Relix é um conjunto de ações provocadoras, alternativas e pautadas na cooperação. Percebemos a arte como instrumento poderoso no auxílio da conscientização, então, este ano, temos um foco ainda maior na parte de cultura”, explica.
Para conceber o Espetaculix, ela convidou Osvaldo Gabrieli, do grupo XPTO, coletivo que faz em seu trabalho uma fluída mistura de linguagens. Por isso, a obra é composta por elementos do teatro de objetos, de bonecos e dança.
“Tínhamos que trabalhar uma questão didática, de um material duro, com dados de pesquisas, muitas fontes. O desafio foi saber como levar esse tema para crianças e adolescentes sem cair na coisa técnica, porque eles não iriam se envolver. Então, como a gente faz? Com arte, claro”, conta o diretor.
Para isso, o artista criou dramaturgia e encenação lúdicas, nas quais cinco super-heróis que cuidam dos resíduos sólidos precisam combater o “dragão do lixo”. Utilizando elementos criativos, frutos de descarte, e também lixeiras como cenários e personagens, os atores entretêm e enaltecem a importância dos catadores, representados por um dos protagonistas. A plateia do espetáculo, inclusive, será ocupada por vários trabalhadores da área e suas famílias.
“Estou muito feliz de estar fazendo esse tipo de trabalho porque se a gente não começa a mudar a mentalidade, vivemos em mundo que está à beira do desastre. Abordar esse tema com crianças e adolescentes, que serão os principais afetados por essas mudanças, é essencial”, reforça Osvaldo.
Ao todo, o espetáculo fará cerca de 160 apresentações no Estado, desde escolas – públicas e privadas – até empresas e espaços abertos.
RETRATOS
Ainda nesta terça-feira (31), em frente ao Teatro Santa Isabel, na Praça da República, estará montada a exposição ExpoliXX, com cerca de 30 fotos de Hélder Ferrer. As imagens retratam catadoras de resíduos sólidos de Alagoas e são parte de um projeto que, além do registro imagético, também relata por escrito as histórias dessas mulheres.
No ensaio, Hélder adentra as casas das trabalhadoras, revelando vivências surpreendentes e diversas. Nesse processo, o artista busca quebrar a invisibilidade social imposta aos que tiram seu sustendo do recolhimento de resíduos sólidos.
Após a intervenção de hoje, a exposição é montada dia 12 de novembro, na Praça do Arsenal, e, a partir do dia 17, ocupa a Torre Malakoff, no Bairro do Recife.