Teatro de Bonecos

Encerramento do Sesi Bonecos do Mundo dá vida ao Parque Treze de Maio

Eram quase 20h de um domingo e o Parque Treze de Maio não estava escuro, esquisito ou perigoso como ocorre normalmente. Graças ao Festival Sesi Bonecos.

JC Online
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Publicado em 11/12/2017 às 12:05
Foto: Filipe Ribeiro/JC Imagem
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Eram quase 20h de um domingo e o Parque Treze de Maio, em Santo Amaro, não estava escuro, esquisito ou perigoso como ocorre normalmente. Muito pelo contrário. Na noite de ontem (10), os 6,9 hectares do parque estavam repletos de pessoas de todas as idades e classes sociais, famílias inteiras que observavam atentas às criaturas coloridas e mágicas trazidas pelo Sesi Bonecos do Mundo – o maior festival de teatro de bonecos da América Latina –, que encerrava mais uma edição na capital pernambucana, depois de um hiato de cinco anos.

Num misto de circo ao ar livre e Carnaval de Olinda fora de época, com seus bonecos gigantes, o festival tinha tantas atrações ocorrendo simultaneamente que o público chega ficava um pouco atônito, sem saber qual atração escolher. Uma das mais concorridas foi a exposição Mamulengo: Patrimônio Imaterial Brasileiro (RJ/PE), cuja fila para ingressar no pavilhão estava sempre bem longa. Com quase 300 bonecos, boa parte do acervo da exposição pertence a Magna Modesto, uma das maiores pesquisadoras brasileiras sobre o tema. 

Outra atração bastante disputada foi a Seres Imaginários, da homônima companhia gaúcha, que apresentou um teatro minimalista, para ser visto a poucos centímetros dos rostos das pessoas. O espetáculo é livremente inspirado em O Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luís Borges e Margarita Guerrero. Ambas puderam ser visitadas pelo público das 16h30 às 20h30 e eram as únicas que não ficavam ao ar livre, e sim num ambiente fechado.

Por volta das 16h30, teve início o espetáculo Torres Andantes, do grupo Giramundo, de Minas Gerais. Fora dos palcos, a atração ocorreu em meio ao público, fazendo do centro do Parque uma espécie de corredor para que os bonecos, de diversos tamanhos e técnicas de manipulação, desfilassem para as crianças, que muitas vezes invadiam o espaço na tentativa de abraçar as adoráveis criaturas. O espetáculo foi interessante sobretudo por permitir essa interação e deixar o público mais perto do encantamento provocado pelos bonecos.

Apesar do grande movimento no miolo do Treze, as diversas cadeiras vermelhas que davam de frente para os dois principais palcos continuavam ocupadas pelo público que não queria perder o melhor lugar para conferir os espetáculos Círculo das Baleias, da companhia paulista Pia Fraus, e O Gigante Egoísta, da carioca Artesanal Cia. de Teatro. O primeiro, que teve início por volta das 17h, no palco 1, durou por volta de uma hora e ninguém arredou o pé, mesmo com tantas coisas ocorrendo simultaneamente em volta. Um dos poucos a não usar títeres com fios, o espetáculo trazia baleias de pelúcia, seguradas e movimentadas pelos quatro integrantes da companhia, que se balançavam com fluidez no ritmo das ondas do mar.

Em paralelo, no palco 3, afastado dos principais, ocorria o espetáculo Histórias de um Abraço, da companhia italiana Dromofista, um laboratório de teatro figurativo no qual ideias e diferentes técnicas são desenvolvidas com ritmo e humor. Na apresentação, o casal Rugiada Grignani e Facundo Moreno deu vida a um mundo imaginário feito de música, luzes, sombras e marionetes. Um dos momentos mais marcantes foi quando o casal se abraçou e, como num laço, Facundo tocava sanfona de costas para o público, enquanto Rugiada manipulava seu fantoche "tocador".

Mas nem só de grandes dimensões foi feito o festival. Tão cativantes quanto as torres andantes eram os minúsculos e adoráveis marionetes. Destes, os mais miúdos se encontravam no espetáculo itinerante O Teatro de Liliput (Carmen), apresentado dentro de uma Kombi amarela, onde o casal de marionetistas da companhia Teatro Tenj & Puppentheaterkunstschutzverein (RUS/ALE) manipulava os marionetes agachados na parte traseira do veículo. Com duração de cerca de dez minutos, as apresentações ocorriam também das 16h30 às 20h30, sequenciadas.

Do outro lado do parque, a família de bonecos Mikropodium, criada pelo húngaro András Lénárt, também prendeu a atenção do público. Isso porque os títeres, entre bailarinas, peixinhos e palhaços que compunham o espetáculo Stop, gesticulavam como se fossem seres vivos.

Marcado por incríveis mestres marionetistas estrangeiros, o evento também abriu alas para os mamulengueiros de Pernambuco e do Brasil. A abertura do espaço, chamado de Praça dos Mamulengos, que ocupou o lado direito do parque, ficou por conta de Zé de Vina, que veio diretamente de Lagoa de Itaenga ao Recife para apresentar o show que mostra desde 1957, acompanhado de um sanfoneiro e uma triangulista, moça que também fazia as vozes das bonecas.

Ponto alto

Foto: Filipe Ribeiro/JC Imagem
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O ponto alto da noite ocorreu às 19h, novamente em meio ao público, com os enormes bonecos aquáticos infláveis do espetáculo Pérola, da companhia francesa Plasticiens Volants, que flutuavam e pairavam sobre o céu estrelado do Centro do Recife. Nesse momento, até mesmo as crianças que estavam elétricas a correr e descer nos escorregos do parque estavam calmas, impactadas e boquiabertas pela imensidão do espetáculo.

Assim foi o encerramento do Sesi Bonecos do Mundo: multicultural e diverso. Mas sobretudo seguro e tranquilo. Uma ambiência que não seria possível se não houvesse pessoas interessadas em ocupar os espaços públicos, ainda tão carentes de atividades culturais.

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