Homenagem

Musical de Zeca Pagodinho preenche o Teatro RioMar com alegria

Duas últimas sessões ocorrem neste domingo (11), no Pina

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 11/03/2018 às 16:50
Foto: Victoria Danneman/Divulgação
Duas últimas sessões ocorrem neste domingo (11), no Pina - FOTO: Foto: Victoria Danneman/Divulgação
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Homenagear grandes artistas em vida é sempre algo relevante. Desenvolver um musical sobre ela, então, é arriscado à décima potência. Um risco que, felizmente, quatro músicos, um regente e 13 atores, correm com muita alegria e profissionalismo durante os dois atos de Zeca Pagodinho - Uma História de Amor ao Samba, que apresentou três sessões: uma neste sábado (10) e ainda tem mais duas neste domingo (11), às 17h e às 20h, no Teatro RioMar, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife.

Ao sermos recebidos pelos santos Cosme (Édio Nunes) e Damião (Bruno Quixotte) antes do início do espetáculo, mal sabíamos que eles seriam os anfitriões mais divertidos de uma viagem lúdica de trem por várias estações da vida e obra de um dos poetas do samba brasileiro. O roteiro de Gustavo Gasparini - que também faz o Zeca adulto e assina a direção geral - deixa claro que o bom humor dita o tom do espetáculo. A prova disso é vermos o nascimento de uma "criança" que "virou uma garrafa inteira de cerveja", ainda que por acidente, antes da cegonha entregá-lo aos pais no subúrbio do Rio de Janeiro.

Tratado como herói do início ao fim, também é interessante ver o personagem título ser chamado de Jessé, seu nome de batismo, aumentando o nível de intimidade do público com o artista. E sobre os atores que fazem o próprio Zeca, é impossível não destacar o trabalho do Peter Brandão dando vida à juventude do cantor. Ver os olhos do ator brilharem em uma conversa do jovem Jessé com o "Velha Guarda" é um dos muitos momentos que sua presença marcante domina palco e prende os espectadores com sua intepretação. Ao passo que Gasparini cativa com a força de suas performances musicais do maduro Zeca, principalmente com a arrepiante Ogum, que fecha o primeiro ato.

A cenografia de Gringo Cardia também entrega outro ponto deste musical: mais que a biografia de uma personalidade do samba, o espetáculo conta uma história de fé. A união de elementos católicos e do candomblé davam a atmosfera espiritual que o enredo precisava. Também havia espaço elementos mais tecnológicos como o próprio Zeca Pagodinho interagindo com seus intérpretes, ora através de uma projeção de led, ora com sua voz em off, criando uma onipresença do homenageado da noite.

O coro de atores é outro aspecto harmonioso da peça. No primeiro ato, onde são mais presentes e atuantes, é perceptível o quanto eles se divertem no palco, sem deixar o texto fugir ou a música sair do tom. No meio do elenco, sobressaem os trabalhos de Ana Velloso, que dá vida à Beth Carvalho em uma das passagens, e Douglas Vergueiro, que arranca risos da plateia no segundo ato como o caseiro Baixinho, ousando xingar a estrela da festa.

Sem qualquer tipo de censura, o Zeca Pagodinho do teatro não é romantizado. Ele fuma, bebe, fala palavrão e brinca. Nem mesmo nos seus momentos mais difíceis, como lidar com as pressões da fama lá na Estação Boom do Sucesso, sempre há uma piada para tentar ver o outro lado de cada situação. Tempere tudo isso com uma banda afiada, que anima o público ao executar sucessos como SPC, Camarão Que Dorme a Onda Leva, O Bagaço da Laranja, Quando Eu Contar (Iaiá), Judia de Mim, Verdade, Incandeia, Caviar, entre outros.

O encerramento, sem muitas surpresas, traz suas músicas mais icônicas: Deixa a Vida Me Levar e Vai Vadiar. Ao fim do espetáculo, Gustavo Gasparini ressaltou a importância de estar no Recife. "Estou muito feliz de estar aqui, na terra do meu pai", disse ele nos agradecimentos.

FALTA PÚBLICO, SOBRA ALEGRIA

Talvez o que vá contra todo este trabalho foi a baixa divulgação do espetáculo, gerando muitas lacunas no preenchimento de público do Teatro RioMar, mesmo com um lote de ingressos populares disponíveis a partir de R$25 em cada sessão. Mas os felizardos que compareceram testemunharam um musical bem executado.

Ver sua história bem contada nos palcos é uma homenagem para poucos. O risco que toda a equipe correu valeu a pena, tanto que o próprio Zeca Pagodinho já assistiu a peça quatro vezes. Essa história de amor ao samba não é só para fãs do cantor, é para acompanhar a trajetória de um brasileiro que, assim como muitos, passou por quase tudo nessa vida e agora, merecidamente, vive a sua vez de se sentir realizado.

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