Do bisturi ao palco

Biografia ressalta importância de Reinaldo de Oliveira para o teatro

Escrito por Antonio Cadengue, livro é lançado dia 23, na APL

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 21/03/2018 às 16:23
Acervo do TAP/Divulgação
Escrito por Antonio Cadengue, livro é lançado dia 23, na APL - FOTO: Acervo do TAP/Divulgação
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Seguir os passos profissionais dos pais, para alguns, é uma decisão árdua. A ideia de ser comparado – e, por isso, de alguma forma tê-los como sombras constantes – pode ser encarada como um fardo. Não é o caso de Reinaldo de Oliveira. Tanto é que se espelhou duplamente no pai, Valdemar, adquirindo o amor pela medicina e pelo teatro, atividades às quais o patriarca se dedicou até o fim da vida. Perpetuando a memória do genitor, mas também construindo sua própria história, ele foi parte de capítulos importantes da vida artística e intelectual de Pernambuco. Sua trajetória de 87 anos, a maioria deles dedicados ao teatro, agora é celebrada com o livro Reinaldo de Oliveira – do Bisturi ao Palco (Cepe Editora, 258 páginas, R$ 80), escrito por Antonio Cadengue, que é lançado sexta, na Academia Pernambucana de Letras.

Poucas pessoas teriam tanta propriedade quando Cadengue para escrever sobre a vida de Reinaldo. No mestrado e no doutorado, o diretor e teórico se debruçou sobre a história do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). Conhece a fundo a importância do grupo para a cena cultural do Estado e do Nordeste e, consequentemente, também o papel crucial da família Oliveira nesse processo.

Para escrever o livro, que integra a coleção Memórias, da Cepe, o autor decidiu não defini-lo como uma biografia tradicional. Preferiu classificar a obra como um “perfil biográfico”, pois o processo de construção parte de uma vontade irrestrita de dar protagonismo à voz do artista.

“Não tive a preocupação de ouvir muitas pessoas porque meu objetivo não era o de uma biografia propriamente dita. Queria deixar que ele guiasse a narrativa. Já conhecia Reinaldo, sou muito amigo de sua filha Yeda, que contribuiu muito com a pesquisa fotográfica para o livro, e por isso passei a conviver muito com ele. Ele é muito falante, mas reservado. Fui dando abertura para que se mostrasse. Temos visões muito diferentes de mundo o que é ótimo porque me obriga a entender outro tempo, outro mundo, outras maneiras de ser”, pontua Cadengue.

O TAP VIVE

Fundado em 1941, por Valdemar de Oliveira e outros nomes provenientes do Grupo Gente Nossa (1931-1939), o TAP ajudou a pavimentar a modernidade no teatro pernambucano e sua influência é encontrada em vários grupos posteriores – fosse para reforçar seus preceitos ou para negá-los.

“Sem o TAP, o nosso teatro, como conhecemos, não existiria. Todos que surgiram como um contraponto a ele, a exemplo do Teatro Popular do Nordeste (TPN) e do Teatro do Estudantes de Pernambuco (TEP), que malograram, enquanto o Teatro de Amadores permaneceu”, acredita Cadengue.

Com o pai e a mãe, Diná, envolvidos com artes cênicas, foi natural que Reinaldo se integrasse àquele universo. Iniciou ainda criança, participando, nos anos 1930 e 1940, de montagens do Grupo Cênico Espinheirense e no Teatro Infantil. Passou a integrar o TAP a partir de 1948, primeiro como ator e, posteriormente, como sonoplasta, iluminador e encenador, tendo aprendido muito com o polonês Zbigniew Ziembinski, figura chave no teatro de vanguarda brasileiro.

Assim como seu pai, Reinaldo conciliou a medicina às atividades culturais. Seu talento enquanto intérprete foi ressaltado por muito críticos e contemporâneos, fosse por sua entrega nos papéis dramáticos, como em O Pagador de Promessas, ou no bom timing para a comédia. Em 1977, com a morte de Valdemar de Oliveira, torna-se diretor geral do grupo. Para Cadengue, Valdemar preparou, direta e indiretamente, o filho para que assumisse seu lugar.

“Reinaldo manteve-se muito fiel aos princípios do pai. Se espelhou demais nele, não rompeu com a imagem, com a ideologia. Existe essa questão psicanalista da morte do pai – simbólica ou literal – como um momento de estabelecimento da individualidade do filho. Acho que Reinaldo nunca quis isso. Ele sabia quem era e a imagem do pai não o oprimia, sendo mais fruto de admiração”, conclui.

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