Talento

A versatilidade de José Pimentel: de halterofilista ao eterno Jesus Cristo

José Pimentel tinha currículo extenso, contando com peças, novelas e filmes

Editoria de Cultura
Cadastrado por
Editoria de Cultura
Publicado em 14/08/2018 às 10:23
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Leitura:

A versatilidade sempre foi uma marca na trajetória de José Pimentel, antes e durante a vivência de Cristo no auto popular de Natal. "José Pimentel participou de toda a evolução do teatro pernambucano, a partir dos anos 1950. Foi ator, autor, diretor, sonoplasta, iluminador, um homem que respirava teatro. Esteve em momentos-chaves, como na estreia de O Auto da Compadecida, com o Teatro Adolescente do Recife", diz o jornalista e escritor Cleodon Coelho, autor da biografia José Pimentel – Para Além das Paixões, lançada pela Cepe.

"Ele foi atuante no Teatro Popular do Nordeste e no Teatro de Arena, sob o comando de Hermilo Borba Filho. Fez muito teleteatro na TV Jornal. São dele, por exemplo, dois espetáculos épicos que fizeram história: A Batalha dos Guararapes e O Calvário de Frei Caneca. Muita gente pensa que Jesus Cristo foi sua única glória, mas o teatro pernambucano não seria o mesmo sem ele. O palco era a verdadeira casa dele", segue Cleodon.

Primogênito de quatro irmãos, José Pimentel nasceu em 1934, em Garanhuns. Passaria a infância mudando de cidade em função do temperamento imprevisível do pai, Virgínio, que mudava de CEP a cada desavença com colegas e vizinhos. Do pai, Pimentel herdou o fascínio pelo imaginário do cangaço. Tinha apenas dez anos quando o pai morreu e a família, sem o patriarca, se mudou para o Recife.

Na capital, uma coincidência do destino lhe facilitou a sensibilidade artística. Como aluno da Escola Comercial Prática, teve Ariano Suassuna como professor de português, um mestre que se tornaria mentor. Os caminhos de ambos voltariam a se cruzar: Pimentel participou da primeira – e elogiada – encenação do Auto da Compadecida, em 1956. Mas não pôde ali se dedicar ao teatro. Era arrimo de família, precisava se ocupar com o que mais rapidamente lhe oferecesse renda. Aí, conciliou os serviços técnicos com o halterofilismo, outra de suas paixões. Foi substituindo a timidez pelo o culto ao corpo. Participando de competições, ganhou um troféu de "Melhores Pernas". Com seu corpo, começa a aparecer na imprensa do Recife.

Foi, então, convidado pelo amigo Octávio Catanho, o Tibi, que também era amigo dos diretores Luiz Mendonça e Clênio Wanderley, a participar do Calvário da Paixão, nas ruas de Fazenda Nova, interpretando um soldado romano. Voltou do Brejo da Madre Deus com novo fôlego.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
- Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
- Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
- Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Foto: JC Imagem
- Foto: JC Imagem
Foto: JC Imagem
- Foto: JC Imagem
Foto: JC Imagem
- Foto: JC Imagem
Foto: JC Imagem
- Foto: JC Imagem
Foto: JC Imagem
- Foto: JC Imagem
Foto: JC Imagem
- Foto: JC Imagem
-
-
-

Com Catanho, integraria o Grupo Paroquial de Água Fria e atuaria como Pilatos, na Paixão de Cristo do bairro. O coletivo monta, então, Lampião, de Rachel de Queiroz, no Teatro de Santa Isabel: é seu primeiro contato com o palco à italiana. A imprensa não perdoou os vários problemas da encenação. O que não abalou sua empolgação com o teatro. Através de Clênio e de Luiz Mendonça, integra a montagem de O Auto da Compadecia. Ali, experimenta o sucesso pela primeira vez. A montagem tinha inovações: o elenco entrava em cena pela plateia. Durante os anos em cartaz, com temporadas no Rio de Janeiro, ganhou elogios de gente consagrada, como a atriz Fernanda Montenegro.

A partir da década de 1960, integra o Teatro Popular do Nordeste, o histórico grupo capitaneado por Hermilo Borba Filho. Aplicando conceitos da cultura popular, o grupo buscava a construção de uma nova gramática teatral, distante das estratégias rígidas e vigentes, importadas do teatro europeu. A atuação de Pimentel chama a atenção dos críticos. Vieram sucessos como Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri; A Farsa da Boa Preguiça, de Ariano; O Noviço, de Martins

GALÃ DE TV E CINEMA

Nos anos 1960, Pimentel se tornaria um dos rostos mais conhecidos de Pernambuco. Como teleator, participou de trabalhos na TV-Rádio Clube e TV Jornal do Commercio. As telenovelas começavam a se tornar uma febre nacional. No Recife, Pimentel foi um de seus primeiros galãs. A Moça do Sobrado Grande é o auge desse processo.

Cinéfilo, Pimentel deu seu primeiro passo no cinema em 1965, quando atuou em Riacho de Sangue, filme sobre o cangaço que ativou as memórias das histórias contadas pelo pai. Encenou ainda A Noite do Espantalho, de Sérgio Ricardo, Faustão, de Eduardo Coutinho, e A Batalha dos Guararapes, que inclusive, inspiraria o espetáculo épico que ele dirigiu anos depois.

Últimas notícias