Após uma sessão para convidados, na terça-feira (26), o Festival de Curitiba inicia nesta quarta-feira (27) sua maratona de apresentações para o público. A 28ª edição do evento segue até o dia 7 de abril e conta com cerca de 400 atrações de teatro, música, dança, circo, stand up comedy, performances, oficinas, entre outras atividades.
Dois criadores franceses são destaque na programação do dia. Aquele Que Cai (Celui Qui Tombe), concebida por Yoann Bourgeois, propõe o jogo norteado pelo risco, questão que conduz o circo contemporâneo, marcado ainda pela dissolução de barreiras de linguagens artísticas. Na obra, seis artistas precisam manter-se de pé em uma plataforma suspensa que desce, sobe, balança e gira em torno do seu eixo principal.
Outro destaque é o musical As Comadres, primeira direção de Ariane Mnouchkine no Brasil. A diretora do prestigiado Théâtre du Soleil celebra o feminino e é construída a partir da peça Les Belles-sœurs, de Michel Tremblay.
Na montagem, celebram-se as vivências de mulheres com histórias distintas, que compartilham entre si as dores e alegrias de existir e resistir em meio a um mundo que tenta oprimi-las.
FEDRA REVISITADA
Fedra em O Fantástico Mundo de Hipólito, dirigida por Eduardo Ramos, da Setra Companhia, revisita a figura mitológica trazendo-a para a contemporaneidade. Teatro, dança e performance mesclam-se no trabalho, nascido de um processo intenso que congregou os atores Airton Rodrigues, Cintia Napoli, Rubia Romani, Malki Pinsag e Maikon K.
“Reunimos artistas do teatro, dança, performance e essa fricção e mistura de várias linguagens levou o trabalho para um lugar singular. Michelle Moura fez a co-direção comigo e essas várias cabeças pensantes buscaram subverter Fedra”, explica o diretor.
Na mitologia, Fedra, casada com Teseu, apaixona-se por Hipólito, filho ilegítimo do marido. Rejeitada, planeja uma vingança com fins trágicos. Mas não é exatamente este o recorte utilizado pelo coletivo. Como ponto de partida, o dramaturgo Gustavo Marcasse utilizou o texto Amor de Phaedra, de Sarah Kane, que já desconstrói a narrativa clássica.
O trabalho de Sarah flerta com a comédia na medida em que observa os absurdos da situação que aqueles personagens vivenciam. Na montagem, acompanha-se a estrutura familiar apresentada pela mitologia, mas com a adição de personagens que antecedem a história daqueles personagens, como Ariadne. Hipólito é um jovem apático, desconectado do seu entorno.
“Há cinco anos talvez não precisássemos fazer um espetáculo que gritasse, incomodasse. Hoje, é necessário porque fala sobre a banalização da tragédia na nossa sociedade. Nossa Fedra é soterrada por todas essas Fedras. A nossa não é vítima, mas tem uma trajetória que se fecha em outro lugar. O nosso Hipólito, eu não sei se ele é um doente ou se ele é a pessoa mais sã do espetáculo. O que nos interessava, desde o começo é pensar o que podemos oferecer para as pessoas para elas saírem desse lugar de alienação. Nós oferecemos cultura”, enfatiza.