Palco

Teatro Fernando Santa Cruz abre nesta terça (22) em Olinda

Equipamento cultural ocupa área do Mercado Eufrásio Barbosa

Márcio Bastos
Cadastrado por
Márcio Bastos
Publicado em 22/10/2019 às 11:44
Bianca Sousa/JC Imagem
Equipamento cultural ocupa área do Mercado Eufrásio Barbosa - FOTO: Bianca Sousa/JC Imagem
Leitura:

Pernambuco tem uma intensa produção nas artes cênicas, mas um desafio histórico de escoar esses trabalhos, dada a falta de pautas nos equipamentos culturais. Ainda que o problema esteja longe de ser solucionado, a partir desta terça-feira (22) a classe artística e o público contarão com um novo espaço para apreciação de espetáculos e shows. Instalado dentro do Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, o Teatro Fernando Santa Cruz abre as portas com programação de cunho político e reflexivo e com iniciativas para se aproximar da cadeia criativa do Estado.

Ainda que tenha sido entregue ano passado, junto aos outros espaços requalificados do Mercado, o teatro demorou a abrir as portas em razão de uma série de minúcias, especialmente a aquisição de equipamentos e mobiliário. Segundo Márcia Souto, diretora de Promoção do Artesanato e da Economia Criativa da AD Diper, gestora do equipamento, a sala está pronta para receber, com conforto, os espetáculos e o público.

Para ocupar a pauta do teatro de 131 lugares, na abertura será lançada uma convocatória, a partir da qual artistas poderão apresentar propostas de apresentações a serem realizadas até janeiro de 2020. No início do próximo ano, segundo Márcia Souto, será aberta uma nova chamada, que terá 20% da reserva de pauta para os grupos de Olinda que preencherem os requisitos do edital.

“Não é um edital no ponto de vista do fomento, mas de utilização do espaço. Nós ofereceremos toda a estrutura, com funcionários e assessoria de imprensa para divulgação dos espetáculos. Como contrapartida, o equipamento fica com a reserva de 10% dos assentos. Ou seja, os outros 117 estariam disponíveis para comercialização”, explica Márcia.

Em setembro de 2020 – data escolhida para evocar a Anistia – acontecerá a primeira edição do Festival Fernando Santa Cruz de Artes Cênicas.

“Acho importante, enquanto política pública de cultura, o resgate desse espaço, especialmente para os grupos de teatro, que têm uma produção riquíssima e sofrem tanto com a questão da falta de pautas. Também é uma oportunidade de trazer mais um palco para a população. Não tenho dúvida que todo mundo vai ficar encantado como ele está bonito e bem cuidado”, enfatiza.

CONTRA A OPRESSÃO

O Teatro Fernando Santa Cruz recebeu o nome em homenagem ao pernambucano que se tornou um dos símbolos contra a ditadura militar instaurada no Brasil em 1964. Ele foi sequestrado pelos militares e a luta dos familiares para localizá-lo gerou comoção nacional.

“Pensamos muito em qual recorte daríamos para esta abertura do teatro. Após muitas conversas, percebemos que, diante da força do homenageado, deveríamos falar sobre o período da ditadura militar, sobre a tortura, até porque esta questão está muito forte no debate público, inclusive por conta de declarações de algumas autoridades. Após consultarmos muita gente, selecionamos peças que tinham relação direta com a investigação do golpe de 1964”, reforça a gestora.

Dentro dessa proposta, o primeiro espetáculo a subir ao palco do novo equipamento, terça-feira (22), às 19h30, será Soledad – A Terra é Fogo Sob Nossos Pés, solo de Hilda Torres. O trabalho resgata a memória da militante paraguaia assassinada em Paulista, no episódio que ficou conhecido como o Massacre da Chácara São Bento.

Após a noite de abertura, o espaço volta a receber montagens a partir de 1º de novembro, sempre às 19h30. O retorno da programação se dará com Antes Que Desapareça, espetáculo de dança contemporânea do Grupo Experimental. No dia 2 de novembro, o Grupo de Teatro João Teimoso monta Retratos de Chumbo, cuja denúncia das atrocidades cometidas pelos militares a partir de 1964 é feita a partir da perspectiva das mulheres.

Nos dias 8 e 9 de novembro, o Coletivo Grão Comum apresenta Pa(IDEIA) e Pro(FÉ)ta, respectivamente, que revisitam o legado de ícones da esquerda brasileira. No primeiro, o foco é o pensamento de Paulo Freire, um dos principais pensadores do País. No espetáculo que encerra esta primeira leva de trabalhos, a figura abordada é a de Dom Helder Câmara.

Todos os espetáculos serão gratuitos, sujeitos à lotação da sala.

Últimas notícias