À frente Vias da Dança por mais de 25 anos, Heloísa Duque vivenciou a dinâmica de grupo em toda sua intensidade. O trabalho de gestão lhe exigia tanto que, em pouco tempo, deixou os palcos para se dedicar aos bastidores, responsável pelas coreografias e por questões burocráticas. Um desgaste pessoal e as dificuldades para viabilizar incentivos fizeram com que optasse por uma mudança drástica: voltar à cena. E sozinha. Após mais de quatro décadas dedicadas à dança, ela estreia seu primeiro solo Eu, Mulher, 29 de novembro, às 20h, no Teatro Arraial.
“Em 2018, decidi que não montaria um espetáculo enquanto coreógrafa. Aos poucos, me veio a vontade de voltar aos palcos e, inicialmente, pensei em estar acompanhada por mais dois artistas. Mas as coisas foram caminhando para eu estar só em cena e tem sido um processo muito intenso”, conta a artista. “Estamos fazendo esse projeto na raça, de forma independente”.
Para Heloísa, estar nos palcos durante maturidade é um processo singular e transformador. E, para trabalhar suas questões de forma intensa e verdadeira, ela decidiu imprimir um caráter autobiográfico nas coreografias.
MEMÓRIAS
“Estou mexendo com meu lado mais passional, deixando para trás o caráter mais burocrático. Essa é uma reinvenção em um momento em que muitos diretores de companhia se enxergam impossibilitados de manter seus grupos devido às dificuldades financeiras. Escolher viver de dança me trouxe muitas conquistas, ma também muitas perdas e tudo isso é trabalhado em cena, junto com o amor, o casamento e a maternidade”, conta.
A exceção para as passagens biográficas são cenas que tocam em temas ligadas ao universo feminino, em tom de denúncia. São movimentos que evocam a violência contra a mulher, escritos pelo diretor Eric Valença.
“Heloísa tem uma história belíssima de dedicação à dança e o que vemos em cena é uma pessoa com plena consciência de sua trajetória e maturidade. O corpo dela é de uma destreza absurda, proveniente do jazz, e mostra a potência dos movimentos e das vivências de uma mulher madura”, pontua Eric.
A trilha sonora, executada ao vivo, é assinada por Pedro Ruff. A iluminação é de Luciana Raposo, enquanto o figurino é de Amanda Brindeiro.