Cinderela, personagem criada por Jeison Wallace, é uma espécie de patrimônio imaterial de Pernambuco. A nossa Gata Borralheira incorpora como poucos personagens ficcionais a essência da gente local, sempre próxima das camadas populares e, assim, indiretamente “manga” das estruturas elitistas de nossa sociedade e consegue, há quase três décadas, arrancar “gaitadas” do público. Dia 19 de dezembro, ela e sua trupe retornam aos palcos para encenar o clássico Cinderela, a História Que Sua Mãe Não Contou em duas sessões, às 19h e 21h, no Teatro RioMar.
Montada pela primeira vez há 28 anos (mais precisamente em 20 de setembro de 1991), a peça foi escrita por Henrique Celibi, ator e dramaturgo falecido em 2017, e se tornou um fenômeno. As sessões aconteciam à meia-noite no Teatro Valdemar de Oliveira e as filas eram enormes com a casa sempre lotada.
A aclamação só aumentava e chegou a reunir 15 mil pessoas em uma apresentação especial no Geraldão. A transmissão da peça na TV Jornal em 1995, foi copiada por muitos em fitas VHS que circularam por muitas casas de Pernambuco. O espetáculo viajou ainda por várias cidades, como Rio e São Paulo, e o elenco ocupou espaço em programas como o de Hebe Camargo, tamanha a popularidade.
Parte da genialidade do trabalho vinha justamente da observação do ethos dos pernambucanos, incorporando perfeitamente expressões (é impossível não associar o “Oxe, mainha” à Cinderela), a cadência e os trejeitos do nosso povo. O timing cômico de Jeison e dos atores que formaram a Trupe do Barulho faz com que a atração, hoje um sucesso com o programa Papeiro da Cinderela, na TV Jornal, não perca a graça.
NOVIDADES
Para essas duas apresentações de amanhã, Jeison reuniu quase todo o elenco original, composto por Flávio Luiz (irmã Ruth), Inaldo Oliveira (Claudete), Jô Ribeiro (Prólogo e Piniqueira do reino), Paulo de Pontes (madrasta) e Roberto Costa (Fada). A peça contará ainda com as participações especiais de André Lins, interpretando o novo príncipe, e de Petreson Eloy.
Como já se tornou marca registrada de Jeison, a apresentação será marcada pelo improviso, já que o texto é usado apenas como base. Mônica Vilarim e Gugga Macel (roteirista do Papeiro da Cinderela) atuaram como consultores nesse processo. Ou seja, a estrutura está lá, mas o público pode esperar muitas novidades.
Inclusive, foi do improviso que surgiu a ideia de montar o espetáculo. Em Caruaru, a Trupe sofreu um baque financeiro com o fracasso da revista infantil Banana Split. Sem dinheiro para voltar ao Recife, o grupo passou a improvisar uma série de esquetes para o público adulto com o objetivo de arrecadar dinheiro para as passagens de ônibus. Foi o embrião de Cinderela.
Para homenagear essa relação com Caruaru, Jeison e companhia planejam uma apresentação na cidade, porém ainda não foi divulgada uma data oficial. A ideia é circular também por outros locais que contribuíram com o sucesso do espetáculo ao longo dessas quases três décadas.