Teatro de objetos

Homem e máquina protagonizam dueto na Fito

O bailarino da Beau Geste, Philippe Priasso, conta como é dançar ao lado de uma retroescavadeira. Espetáculo é apresentado nesta quarta (12), no Hospital Ulisses pernambucano e, no festival, de sexta (14) a domingo (16)

Beatriz Braga
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Beatriz Braga
Publicado em 12/09/2012 às 6:45
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A companhia francesa Beau Geste apresenta o espetáculo  Transporte excepcional no Fito, um dueto entre o dançarino Philippe Priasso e uma retroescavadeira, ao som de uma ópera de Maria Callas. A direção é de Dominique Boivin. É primeira vez que o espetáculo chega ao Nordeste e a quarta no Brasil. Em entrevista exclusiva, Philippe Priasso conta como a máquina se transformou no seu par e, em perfeita sintonia, se tornou uma extensão de suas emoções na dança. O espetáculo será hoje (12), às 14h, no Hospital Ulisses Pernambucano e de sexta (14) a domingo (15), às 18h50, no Marco Zero.

JORNAL DO COMMERCIO - Como é, entre dificuldades e vantagens, dançar interagindo com uma máquina e não ter, ao lado, outro ser humano?

Philippe Priasso  - Por mais estranho que possa parecer, e para além das dificuldades técnicas, não há muita diferença entre dançar com uma máquina, e um ser humano. Por quê? É muito simples porque a máquina é a extensão física e emocional de uma outra pessoa, o piloto, que segue com as alavancas  uma trama  coreográfica definida. No final, trata-se de  um dueto que segue movimentos e os intenta  reinterpretar mas que  que são muito precisos  e exatos a cada apresentação.  É preciso, portanto, assim como quando você dança com um ser humano, ajustar a técnica às intenções que acompanham cada movimento.

JC - Sendo uma máquina tão potente, espaçosa e difícil de ser manejada, como foi aprender a vê-la como uma parceira de palco? Houve, em algum momento, tensão ou competição entre artista e máquina? 

 Philippe Priasso - Desde o início do trabalho, há 8 anos, sempre se aproximou da máquina como um ser vivo. Improvisando, muitas vezes desajeitadamente tateando, como fazemos na vida quando você aprende a conhecer a pessoa que está a sua frente . A estranha relação que aparece no duo é o resultado de qualquer relação em  se tenta uma  aproximação e há a implicação de riscos, neste caso, relativos ao perigo da manipulação da retroescavadeira. Substituimos o medo que tínhamos da experiência pelo sentimento de inocência, que nos parecia evidente. A máquina, no fim, é capaz de encontrar a nossa intimidade poética. É só isso  que importa para nós. O resto são apenas problemas técnicos que devem ser superados, independente de máquinas e das condições de espaço e ambientais (clima, solo, etc ...) que ocorrem no duo.

JC - A relação de dançarino e objeto, complementada pelo canto lírico, sugere uma impressão mais suave do que prevista em uma relação homem-máquina. Quando a ideia da apresentação foi concebida, já era esperada tamanha sintonia? 

Philippe Priasso - Fazia anos desde que Dominique Boivin falou de crear uma coreografia com uma retroescavadeira. A idéia de um mundo a reconstruir após o colapso das torres gêmeas de Nova York. Ousar e trazer um olhar otimista sobre as mudanças que devemos fazer no mundo para que a vida continue. Então, em 2004, se deu a oportunidade , durante um evento em um jardim em Estrasburgo, de usar uma retroescavdeira no meio dos bailarinos. Vendo as possibilidades de movimento da máquina, e de volta para casa, decidimos fazer mais ensaios. A magia dessa relação se impôs naturalmente  e explorando sem prejuízo ou negativa a priori o que extraiamos deste jogo.  Em relação à escolha da música, ela nos reporta para a origem da música eletrônica ou industrial. E correspondia mais ao nosso do momento. Mas esta música muito próxima da máquinacolocam o duo numa dimensão mais poética . A dupla está finalmente envolvida nos acordes da voz lírica de Maria Callas.


 

JC - Como e quanto tempo levou para essa harmonia se solidificar?

Philippe Priasso  - Depois de 2005, nós tinhamos passado uma semna para terminar  o trabalho e o apresentar a um público fechado. Depois de 7 anos , durante 600 performances e centenas de parceiros diferentes, nunca paramos de trabalhar ereafinar a qualidade da relação entre homem e máquina para fazer essa harmonia única dentro daquilo que é evidente e aquilo que é real.

JC - Quais as reações do público que assiste às apresentações? 

É difícil pra mim falar do público, mas muitas vezes eu recebo reações espontâneas após o espetáculo. E se na Índia, África, Austrália e China, Londres, Paris, São Paulo, parece que a máquina já não existe apenas na formade uma projeção da qual cada se apropria de acordo com a sua imaginação pessoal. Em seguida, abre o espaço poético e se preenche com uma carga emocional.

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