MARCADOS

O encontro da fotógrafa Claudia Andujar com os ianomâmis

Fundaj inicia a programação 2013 do projeto Política da Arte com uma exposição e palestra da fotógrafa

Eugênia Bezerra
Cadastrado por
Eugênia Bezerra
Publicado em 15/05/2013 às 7:34
NE10
FOTO: NE10
Leitura:

-
-
-

Claudia Andujar foi para a região amazônica, na década de 1970, fazer um trabalho para a extinta revista Realidade. O encontro da fotógrafa suíça, radicada no Brasil desde a década de 1950, com os índios ianomâmis uniu os personagens de uma história que se prolonga até hoje. A partir desta experiência, Claudia dedicou-se aos ianomâmis, voltou várias vezes à região e lutou pelos direitos deles. Um dos desdobramentos da vivência é a série Marcados, que será exposta na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj/Derby), a partir desta quinta-feira (15/5). A mostra é inaugurada às 18h, na Galeria Vicente do Rêgo Monteiro, e às 19h ela conversa com o público na Sala Aloísio Magalhães. A exposição e a palestra abrem a programação de 2013 do programa Política da Arte (e, com isso, outras atividades de formação serão realizadas durante o período de visitação da mostra).

Depois desta primeira experiência, Claudia recebeu uma bolsa da Fundação Guggenhein (EUA) e da Fundação de Auxílio à Pesquisa do Estado de São Paulo para voltar ao local. A fotógrafa não só registrou o modo de vida das pessoas que encontrava, como começou a se dedicar à causa indígena. Claudia também participou da Comissão de Criação do Parque Yanomami (CCPY) e coordenou a campanha pela demarcação do território indígena. "Em 1981, diante das epidemias que estavam matando centenas de índios, ela decide fazer outra expedição acompanhada de dois médicos", explica o curador Moacir dos Anjos.

Foi nesta época que ela fez as fotos da série Marcados, originalmente para as fichas médicas dos índios. À primeira vista, a presença de placas com números nos retratos provoca estranhamento, mas um texto que também faz parte da exposição esclarece os motivos da escolha: "A série foi exposta pela primeira vez na 27ª Bienal de São Paulo e chamou muita atenção. Primeiro, porque ela é mais 'seca' do que outros trabalhos de Claudia que as pessoas estavam acostumadas a ver. Segundo, porque em várias situações da era moderna placas eram usadas para marcar as pessoas condenadas à morte, por exemplo, ou as que seriam segregadas de alguma maneira. Mas neste caso, como ela mesma diz, eles estavam sendo marcados para viver. Esta informação é sempre dada quando as obras são expostas", explica Moacir.

"Eles desenvolveram uma relação muito afetiva. Davi Kapenawa, que é um líder dos ianomâmi, era bem jovem quando a conheceu. Hoje em dia ele a chama de mãe", afirma o curador.

Depois da Bienal de São Paulo (2006), a obra foi mostrada na Galeria Vermelho (2009, mesmo ano em que o livro foi publicado pela Cosac Naify) e no Centro de Cultura Judaica (2011). Esta é a primeira vez que o conjunto é exibido fora de São Paulo. Na Fundaj, são expostas 65 das 85 fotografias. Além delas, o público encontra na galeria um mapa com a localização das aldeias onde viviam os índios fotografados e a reprodução das fichas médicas para as quais as fotos foram originalmente feitas. Também há um espaço para a consulta de livros e documentos como o Relatório Yanomami 82, produzido pela CPPY.




PROJETO

O Política da Arte é realizado pela Coordenação de Artes Visuais da Fundaj desde 2009. No projeto, a exibição das obras é articulada com atividades de formação, que estimulam o pensamento sobre assuntos relacionados à exposição. No caso de Marcados, além do espaço em que o público tem acesso ao material bibliográfico sobre os índios, estão programadas algumas palestras (as datas de cada uma ainda serão divulgadas pela Fundaj).

Duas delas já estão confirmadas: uma com a participação do antropólogo Renato Athias e outra com a pesquisadora Stella Senra. Também já foram anunciadas a participação da equipe do projeto Vídeo nas Aldeias e a exibição do filme Xapuri.


Últimas notícias