Os filósofos franceses Deleuze e Guattari compararam uma vez, em 1997, a atuação do filósofo com a do artista. Segundo eles, ambos “têm frequentemente uma saúde frágil, não por causa de suas doenças ou de suas neuroses, mas porque viram na vida algo grande demais para qualquer um (...) e que pôs neles a marca discreta da morte.” Cada artista consegue então promover através de seu dom um olhar diferenciado e provocativo sobre a vida e, consequentemente, sobre sua inerente companheira, a morte. São cinco os olhares sobre os acontecimentos da vida que estão expostos a partir de hoje na Galeria Ranulpho através das obras dos pernambucanos Eudes Mota, Bete Gouveia, Rinaldo Silva, Antônio Mendes e Carlos Pragana.
A exposição, intitulada Os cinco, é a segunda mostra da recente fase de abertura da Ranulpho Galeria para a arte contemporânea. Não há um fio condutor que permeie as 23 obras. Todos os artistas apresentam obras inéditas. Rinaldo trabalha em cima do tema do olhar com uma série de três quadros. Teu olhar borda uma perspectiva feminina; Meu olhar, seu oposto masculino e Corrida no ateliê é uma representação de seu ambiente de trabalho, dentro da mesma linha artística dos outros dois. Já Pragana volta com a concepção de colagem que ele mostrou ao público em sua última exposição, no mês de julho, e que vem sendo trabalhada há um ano e meio.
Das cinco obras, duas são inéditas e, apesar de estarem dentro da mesma proposta das outras três, são colagens digitais (a colagem é escaneada e depois impressa). “É um caminho que estou percorrendo e ainda não sei onde vai bater. Mas essa é que é a graça da arte e da vida, não saber o que pode ocorrer. Acho que as colagens digitais podem ser a trilha dos meus próximos trabalhos”, diz.
Também trabalhando com interferência digital a partir de um estilo de obra já existente, Bete Gouveia retomou para Os cinco uma série iniciada em 2006. “Estou chamando essas novas de ‘segundo momento’. Venho trabalhando em cima de obras minhas a partir de um programa que tenho no meu iPad. Essa interferência ampliou possibilidades e resultou em uma maneira mais suave de pintar”, explica.
Situando-se em uma entre-safra de trabalhos, Antônio Mendes traz cinco novos quadros. “Entre uma série e outra acabo voltando para a paisagem c omo maneira de limpar minha cabeça. Esses cincos quadros resultam desse processo e mostram o que estou buscando no sentido do traço”, diz o artista. Não há unidade entre as obras de Mendes, mas todas demonstram um desejo não planejado da busca profunda do azul.
Assim como Bete, Eudes Mota retoma uma série antiga para apresentar um novo projeto. Um quadro inédito advém do trabalho Código de barra, de 1997, desta vez utilizando técnicas de recortes no linho, que devem guiar o artista nos seus futuros trabalhos. Cinco olhares diferentes sobre caminhos distintos da vida que ameaçam também, por suas inquietações, a boa saúde dos “não artistas” e filósofos.
Leia matéria na íntegra na edição desta quinta-feira (12) do Caderno C, no Jornal do Commercio.