A construção da 31ª Bienal de São Paulo, que tem abertura marcada para o dia 2 de setembro de 2014, já está em andamento com uma proposta que expressa o interesse da equipe curatorial em aprofundar o conhecimento sobre as nuances do Brasil, não apenas da cidade-sede do evento, e em dialogar com a conjuntura sociopolítica mundial. Formado por cinco curadores estrangeiros, o grupo já começou as pesquisas e uma série de encontros por várias cidades do País (que inclui retornos aos locais visitados). No Recife, uma das reuniões aconteceu no Espaço Fonte, na quarta-feira passada (13/11), com a presença de dois curadores: Charles Esche (Escócia), diretor do museu Van Abbe (Holanda), e Pablo Lafuente (Espanha).
Os dois também são escritores e atuam no setor das publicações sobre arte, com a editora Afterall, sediada no Central St. Martins College of Art and Design (Londres). Além da conversa no Espaço Fonte, no Centro do Recife, estava na programação da dupla visitas a artistas e instituições, para conhecer mais sobre a cultura e o que está acontecendo na cidade. O espectro das reflexões não fica nas artes visuais. Questões sobre outras artes no cenário cultural do Recife e sobre o desenvolvimento urbano foram citados por eles na lista das coisas sobre as quais já haviam escutado e observado, antes mesmo da conversa na quarta-feira.
Curador geral da 31ª bienal, Charles Esche considera que este é um momento empolgante para ser convidado a assumir este papel: "Acho que, em parte, porque parece que a Bienal de São Paulo está em um bom momento em sua história, onde é possível desafiar um pouco alguns dos modelos que têm sido estabelecidos. Passou por tempos difíceis e acho que agora parece estar mais estável. Segundo, que o cenário da arte brasileira também está muito forte. Então, acho que será interessante fazer a pesquisa, chegar a lugares como o Recife e descobrir o que está acontecendo. Tentar construir o diálogo com os artistas e a comunidade cultural, com os movimentos de protesto, as mudanças sociais que estão acontecendo no Brasil. Parece um bom momento para se envolver".
"“Há algo sobre a Bienal de São Paulo que dificilmente outras bienais têm, que é a grande audiência. Talvez a Documenta de Kassel (Alemanha), mas em um contexto diferente. Nós pensamos que isto é algo muito interessante para explorar e aprender. Somos cinco curadores e alguns de nós já trabalharam um pouco ou muito com o Brasil, mas nenhum de nós é daqui. O que decidimos fazer é ter um processo de aprendizagem muito intenso por todo o País", completa Pablo Lafuente, explicando que o conjunto de atividades envolvidas na pesquisa (como as visitas e as reuniões) ajudam a construir um mapa do que está acontecendo em um país tão grande, com tantas diferenças e, ao mesmo tempo, com questões em comum.
"A ideia é provocar uma reação. Nós queremos que eles vejam uma conexão entre a arte e a vida. Entre a arte e a sociedade. Isso muda a sociedade. Estamos em um momento de transição, as antigas certezas do século 20 se foram. Mas as novas do século 21 não emergiram ainda. Neste momento, a arte tem um papel importante de incentivar uma reflexão cultural, como 'de onde viemos', e de experimentar isso. Ao mesmo tempo, é um motor especulativo esta coisa que produz mentalmente possibilidades para o futuro, na imaginação. E, em um momento de transição, isto é particularmente importante. Ainda não temos uma boa ideia de quais serão as ideologias futuras. O poder dos Estados Unidos está em declínio, o que é uma grande mudança geopolítica, mas o que irá substituir isso não sabemos. A arte é onde nós podemos permitir que as pessoas reflitam sobre tudo isso e talvez tomem decisões", ressalta Charles, acerca das possibilidades da arte e de suas relações com o contexto sociopolítico.
O texto completo está no Caderno C deste sábado (16/11), no Jornal do Commercio.