ABERTURA

Casa Daros abre sua primeira mostra dedicada exclusivamente à arte brasileira

As 60 obras, criadas por oito artistas, foram escolhidas entre as peças da Coleção Daros Latinamerica

Do JC Online
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Publicado em 21/03/2015 às 6:06
Eugênia Bezerra
FOTO: Eugênia Bezerra
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RIO DE JANEIRO – "A poética nasce da luta pelo desejo de conhecer". A frase é do artista Antonio Dias (PB), criador da instalação Faça você mesmo: Território liberdade (o título deixa claro, cada um pode estabelecer o seu território). Esta é a primeira obra que o público encontra logo ao passar pela recepção da Casa Daros, a partir deste sábado (21/3), com a abertura da exposição Made in Brasil no espaço cultural localizado no bairro de Botafogo. Composta por 60 obras de oito artistas, esta é a primeira mostra da Casa Daros dedicada exclusivamente à arte brasileira.

Menções a espaços físicos e simbólicos, como a feita na obra de Antonio Dias, podem ser identificadas em outros trabalhos presentes na mostra, mas eles não foram reunidos por um tema específico. "As qualidades artísticas individuais são demasiadamente distintas para oferecer uma imagem geral homogênea; em vez disso, elas representam o extenso âmbito da produção artística brasileira nos últimos anos", escreveram os curadores Hans-Michael Herzog e Katrin Steffen.

O escuro na primeira sala expositiva do prédio de arquitetura neoclássica preservada envolve o visitante da mostra e ressalta os sons e as imagens da videoinstalação Entre os olhos, o deserto (1997), de Miguel Rio Branco (Ilhas Canárias). Depois, ele segue por outro grande cômodo onde estão 22 livros-objetos de Waltercio Caldas (RJ), até mergulhar na escuridão outra vez e atravessar a cortina preta que envolve Missão/Missões (Como construir catedrais), de Cildo Meireles (RJ). 

Os livros de Waltercio são feitos de materiais diversos e formatos inusitados. Alguns remetem à obra de outros artistas, como o escultor Giacometti (Suíça) e o artista visual Man Ray (EUA), com poucos elementos. Da mesma maneira que é sucinta a sugestão de uma imagem em obras como Voo noturno (1967). "São tantas ideias que confluem nessas obras", comenta Hans-Michael Herzog, destacando esta construção com "quase nada" feita pelo artista.

"Só Deus sabe o trabalho que me dá fazer esse quase nada", brinca Waltercio, que afirma: "Os livros para mim possuem características muito especiais. São objetos que são maiores por dentro do que por fora. Eu digo que eles são da família dos espelhos e do relógio. Funcionam e são objetos de visitação".

Na sala vizinha, o público entra na obra de Cildo Meireles. Com a abertura da cortina, revela-se o chão coberto por 600 mil moedas, conectada ao teto de dois mil ossos por uma "corda" de 500 hóstias. Feita em 1987, a obra foi um dos destaques da retrospectiva de Cildo na Tate Modern em Londres (2008) e desde 1998 não era vista no país do artista. 

"O título faz uma referência às missões dos jesuítas no sul do Brasil, Paraguai e Argentina", lembra o curador, que em seguida apresenta outras obras de Antonio Dias distribuídas pelas próximas cinco salas da Casa Daros: "Aqui ele é super minimalista, está tocando em tudo, mas não definindo nada. Antonio é muito político e às vezes isso também se manifesta nas obras". Exemplos que combinam com esta última afirmação são obras como a pintura The occupied country (1970) e o objeto History (1968), uma estrutura de PVC com terra e poeira. "Ela permite muitas interpretações. Um mais óbvio é que da história o que resta é só isso e não grandes narrativas", sugere Hans-Michael.

O percurso continua por obras como os oito desenhos de Milton Machado (RJ). "Estes trabalhos são da família dos vira-latas (não se encaixam em uma série), mas o uivo deles com a lua cheia é muito forte. Obviamente há um teor político aqui", diz ele na sala onde estão Cheiro da corte e Prato de resistência (1976).

Nos outros espaços há dois trabalhos de José Damasceno (RJ), a instalação feita com estantes Agregado (1999) e Can you hear me? (2006), na qual dois trompetes estão unidos pelo bocal. Há também cinco fotos de Vik Muniz (SP), como a imagem da Marilyn Monroe feita com diamantes. Outra sala é dedicada a Humanoides (2001), de Ernesto Neto (RJ). A obra passa a ideia de aconchego, pois o espectador precisa tirar os sapatos para entrar na sala e pode vestir as peças feitas de tecido e recheadas com bolinhas de isopor.

Eugênia Bezerra
Waltercio Caldas - Eugênia Bezerra
Eugênia Bezerra
Waltercio Caldas - Eugênia Bezerra
Eugênia Bezerra
Waltercio Caldas - Eugênia Bezerra
Eugênia Bezerra
Waltercio Caldas - Eugênia Bezerra
Eugênia Bezerra
Waltercio Caldas - Eugênia Bezerra
Eugênia Bezerra
Waltercio Caldas - Eugênia Bezerra
Eugênia Bezerra
Detalhe da obra de Cildo Meireles - Eugênia Bezerra
Eugênia Bezerra
Detalhe da obra de Cildo Meireles - Eugênia Bezerra
Peter Schälchili/Divulgação
Antonio Dias, "History" (1968) - Peter Schälchili/Divulgação
Divulgação
Antonio Dias, "Project for "The-body" (1970). Na parte clara está escrito Energy e, na outra, Memory - Divulgação
Vicente de Mello/Divulgação
José Damasceno, "Agregado" (1999) - Vicente de Mello/Divulgação
Peter Schälchli/Divulgação
José Damasceno, "Can you hear me" (2006) - Peter Schälchli/Divulgação
Everton Ballardin/Divulgação
Milton Machado, Carpaccio em quatro fatias sob chuva fina (2013) - Everton Ballardin/Divulgação
Peter Schälchli/Divulgação
Milton Machado, Cheiro da corte (1976) - Peter Schälchli/Divulgação
Everton Ballardin/Divulgação
Milton Machado, Prato de resistência (en tenue de ville) - Everton Ballardin/Divulgação
Vik Muniz/Divulgação
Vik Muniz, Marilyn Monroe (2004) - Vik Muniz/Divulgação
Vik Muniz/Divulgação
Vik Muniz, Medusa Marinara (1997) - Vik Muniz/Divulgação

*A repórter viajou a convite da Casa Daros

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