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Paulo Sultanum lança livro com fotos sobre bicicletas pernambucanas

Obra mostra como trabalhadores usem o meio de transporte e o utilizam até para se expressar

Do JC Online
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Publicado em 22/09/2015 às 6:07
Paulo Sultanum
FOTO: Paulo Sultanum
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A partir das 5h da manhã já é possível se ver, em várias cidades pernambucanas, homens e mulheres indo trabalhar em suas bicicletas com adesivos de santos, mensagens evangélicas, pinturas impecáveis, placas de serviços ou até babados decorativos. Muito antes da ascensão dos debates sobre o cicloativismo, pedalar era a forma prioritária de locomoção de muita gente – por necessidade ou paixão. Ao notar que essas pessoas e esse universo passavam despercebidos da população dos centros urbanos, o fotógrafo Paulo Sultanum decidiu registrar, em 2010 e 2011, as bicicletas – e seus donos – em imagens. O resultado dessas saídas de madrugada ou no fim do dia viraram o livro Pernambuco Correia Virada, lançado nesta terça (22), a partir das 19h, no Porto Mídia.

O volume, que conta com recursos do Funcultura, traz as fotos de Paulo e textos do curador e fotógrafo José Afonso Júnior, do arquiteto e urbanista Cristiano Borba e da jornalista Iara Lima. São 144 páginas em que o foco é um objeto simples e fascinante: as bicicletas. O contato inicial de Paulo com elas é, como para a maioria das pessoas, antigo. “O despertar para a bicicleta como brincadeira é de quando eu tinha cinco anos e aprendia a andar e cair. Eu cresci e tive mais duas; uma foi roubada e a outra tentaram levar. Quando fui morar em Boston para fazer universidade, a bicicleta era o meu principal meio de transporte, até por uma questão financeira”, conta o fotógrafo.

A partir daí, as magrelinhas sempre estiveram presentes no seu cotidiano e viraram até o seu principal modo de se locomover. A vontade de fotografá-las tem relação também com o fato de conhecer muitas pessoas que já as usavam diariamente: porteiros, zeladores e entregadores do Centro do Recife, entre outros. “Isso ficou no meu subconsciente como algo emocional. Lembro muito fortemente de ver bancos coloridos, símbolos orientais, adereços únicos. Sempre foi algo que me encantou”, revela. Em uma vinda ao Recife – ele mora entre a cidade e São Francisco (EUA) – , preparou passeios para registrar a relação singular de pernambucanos com suas bikes. O nome do projeto, Pernambuco Correia Virada, faz ainda uma homenagem aos maracatus de baque virado, expressão também única do Estado.

Paulo Sultanum
As bicicletas são o foco do livro Pernambuco Correia Virida, de Paulo Sultanum - Paulo Sultanum
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As bicicletas são o foco do livro Pernambuco Correia Virida, de Paulo Sultanum - Paulo Sultanum
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As bicicletas são o foco do livro Pernambuco Correia Virida, de Paulo Sultanum - Paulo Sultanum
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As bicicletas são o foco do livro Pernambuco Correia Virida, de Paulo Sultanum - Paulo Sultanum
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As bicicletas são o foco do livro Pernambuco Correia Virida, de Paulo Sultanum - Paulo Sultanum

Num dos textos que apresenta o livro, o pesquisador José Afonso Júnior compara a arte de fazer imagens com a locomoção em duas rodas. “Fotografar e pedalar pedem uma relação de troca mais delicada entre a atenção e o mundo. Cada uma ao seu modo, praticam argumento contra uma memória volátil, contra o desaparecimento das coisas no cotidiano”, ressalta. Não por acaso, lembra Paulo, celebra-se a fotografias e os ciclistas no mesmo dia, 19 de agosto.

No livro, Iara Lima conta a história da criação e do uso das bicicletas do ponto de vista de uma delas. Cristiano, por sua vez, lembra que uma bike é mais do que um ativismo recente. “Expressões visuais subjetivas também podem coincidir com a necessidade de empoderamento pessoal do usuário da bicicleta. (...) A classe trabalhadora brasileira, urbana e rural, usa diariamente a bicicleta há bastante tempo”, pondera o arquiteto.

Para Paulo, antes mesmo do crescimento do ativismo em duas rodas no Estado, esses trabalhadores foram os primeiros cicloativistas. “São ativistas simplesmente porque não dirigem. A opção tinha um motivo econômico, mas muitos com quem conversei preferiam mesmo a bicicleta”, lembra. Um dos prazeres foi poder fazer esses passeios programados, que, no entanto, sempre cediam ao acaso, conversando e registrando as pessoas que encontrava. “Vi muitas pessoas interessantes e abertas. Sempre tinham uma história para contar da relação com suas magrelas”, explica Paulo.

Além disso, nos último anos, a atenção que o tema recebe aumentou. “Não sei se é porque abri mais meus olhos, mas vejo as pessoas pedalando mais. Acho que estão cansadas da ilusão de que comprar um carro é uma liberdade, quando, na verdade, é se colocar em uma quase prisão”, afirma o fotógrafo. “A bicicleta é uma forma simples de ir a algum lugar, você interage com a cidade e as pessoas. Acho que houve uma mudança, sim, nesses últimos anos.”
O Pernambuco Correia Virada deve ser lançado em outras cidades, incluindo São Paulo e São Francisco. Para 2016, Paulo ainda planeja uma exposição do material.

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