O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) abriu no último sábado (28) a mostra Natureza Franciscana, que busca mostrar o ponto comum entre a ecologia e a arte. Com trabalhos do acervo do MAM e emprestados por outras instituições, a exposição abrange diversos tipos de expressão artística, como fotografia, gravura, escultura e bordado. As obras podem ser vistas na sede do museu, no Parque Ibirapuera, zona sul paulistana.
O Cântico das Criaturas, escrito por São Francisco de Assis, no século 13, é a linha que une os trabalhos artísticos selecionados para a mostra. “São obras feitas em uma relação de colaboração com a natureza, que é a inovação do Cântico das Criaturas. É a indicação de Francisco de Assis de uma relação horizontal entre o ser humano e a natureza, e não mais uma relação de subordinação da natureza ao ser humano”, explicou o curador Felipe Chaimovich sobre a pesquisa que levou a montagem da exposição.
O poema em que os elementos da natureza são considerados como irmãos por Francisco foi escolhido por ser, segundo o curador, a origem dos estudos em perspectiva nas artes. “Os franciscanos são os autores dos dois principais manuais de ótica, que é o nome que a perspectiva ocupava. Eles chegaram ao desenvolvimento da ótica a partir de uma visão de Francisco de Assis de traços da gênese do universo presentes na natureza e que aproximam o homem do resto da natureza”, explica Chaimovich.
De acordo com o curador, tal visão foi apresentada justamente no cântico. A partir desse pensamento, os franciscanos passaram a estudar a geometria da luz como forma de entender a natureza, acrescentou Chaimovic. Por causa de tal relação, a escolha do poema, que inclusive, marca divisões explícitas na exposição. “A mostra foi dividida conforme os elementos que aparecem no cântico: o sol, as estrelas, o ar, a terra, o fogo, a água, as doenças e atribulações a morte”, detalha o curador.
Com a obra I Got Up (Eu Acordei) do japonês On Kawara, explora-se um dos aspectos da relação do sol com a humanidade. Por 12 anos, entre 1968 e 1979, o artista enviou diariamente cartões-postais da cidade onde estava para amigos. No verso do cartão, a hora em que havia acordado naquele dia. “Essa obra se refere ao ciclo do sol, aos dias, como duração da nossa existência. O sol que nasce a cada dia e marca o nosso despertar para aquele dia”, comenta Chaimovich.
Em um bordado sem título, do brasileiro José Leonilson, é feita uma relação com a morte. A obra ficou inconclusa devido ao falecimento do artista, que era portador do vírus HIV, em 1993.