ARTE CONCEITUAL

Santiago acusa Bruscky de se apropriar de obra na Bienal de Veneza

O antigo parceiro diz que o artista escondeu a verdadeira autoria de "Arte se Embala Como Quiser"

Bruno Albertim
Cadastrado por
Bruno Albertim
Publicado em 13/07/2017 às 10:13
Foto: Divulgação
O antigo parceiro diz que o artista escondeu a verdadeira autoria de "Arte se Embala Como Quiser" - FOTO: Foto: Divulgação
Leitura:

Depois da consagração, a acusação polêmica. Uma das estrelas da Bienal Internacional de Veneza deste ano, o pernambucano Paulo Bruscky é acusado por seu colega Daniel Santiago de ter se apropriado de uma obra sua para participar do evento que figura como o mais importante do calendário ocidental de arte. Na cidade italiana, em março, Bruscky percorreu os canais de Veneza com caixotes fabricados para embalar obras de arte equilibrados sobre gôndolas. No jardim da Bienal, os caixotes foram desembarcados e alojados de forma aleatória num dos espaços expositórios. A obra/performance tem o título de Arte se Embala Como Quiser.

“Esse foi exatamente o nome que criei para a obra”, diz Santiago, antigo parceiro criativo de Paulo Bruscky, com quem trabalhou até o começo dos anos 1990. “Não pretendo processar Bruscky nem nada do tipo. Mas quero apenas deixar público que esse trabalho foi assinado pelos dois, mas foi criado por mim”, afirma Santiago. “Alguns curadores e biógrafos estudarão a obra de Bruscky a partir desse trabalho e é preciso, portanto, deixar clara a autoria”.

De volta ao Recife e prestes a embarcar para Paris para organizar sua exposição individual no Centro Georges Pompidou, em Paris, Bruscky diz que Daniel Santiago estaria querendo se promover à sua imagem. “Ele está querendo aparecer às minhas custas. Outro dia, eu saí numa pesquisa como um dos mil brasileiros vivos mais importantes. Fui convidado, agora, para ocupar um andar inteiro do Pompidou, com minha obra. Eu fui trabalhar no mundo. Ele, infelizmente, ficou na província, preso na república dos caranguejos. Não tenho culpa se tenho projeção internacional”, ele diz.

Bruscky diz que jamais apagou ou tentou esconder a participação de Daniel Santiago na autoria do trabalho, “criado em parceria”. “Isso não existe, eu jamais neguei a parceria na autoria do trabalho”, diz Bruscky, informando que no catálogo da Bienal de Veneza deste ano consta uma reprodução do telex original de 1973 sobre a obra em que aparecem os nomes de Paulo Bruscky e Daniel Santiago como autores.

Santiago diz que o telex, enviado para uma exposição em Curitiba cujo nome ele já não lembra, seria “a própria obra”. “Em 1973, o próprio telegrama era a obra, era para alguém do museu pegar as caixas de outros artistas é colocar no lugar, arte se embala como se quer. Ele podia ter dito isso, que eu criei a obra. Assim como um cantor que cita que a música é do outro compositor, como Picasso copiou Velasquez e vários outros artistas fazendo releituras. Bastava dizer que aquela performance é de Veneza, mas ele partiu de um trabalho criado por Daniel Santiago”, diz ele. “Pelo estilo de narrar do telegrama, se percebe que tem o meu estilo”.

O fato provocou discussões entre pessoas ligadas aos círculos mais estritos da arte em Pernambuco. A pesquisadora e historiadora Joana Darc Lima, curadora da Um Sonho de Ezra Pound, exposição de Daniel Santiago atualmente em cartaz no Museu de Arte Metropolitana Aloísio Magalhães (Mamam), no Recife, convidou, através do Facebook, o artista a responder uma espécie de entrevista pública. Dentre outras questões, ela pede a Santiago para contar as “principais motivações que fizeram com que esse trabalho ganhasse materialidade e por meio de um telegrama se tornasse um projeto público? Quem o redigiu? Por que essa proposta não se realizou naquele momento?”.

CAPACIDADE

Se Bruscky diz que Santiago quer se promover com o episódio, Santiago, por sua vez, desdenha da capacidade criativa do antigo parceiro. “Duvido que ele tenha capacidade intelectual para criar algo à altura da Bienal de Veneza. Ficou assustado e teve que recorrer a um antigo trabalho de nossa época. Se eu resolver executar algo nosso, comunico a ele”, diz. “Ele (Santiago) vive fazendo coisas criadas em parceria, eu não digo nada. Mas não vou perder tempo com ele”, diz Bruscky, mais preocupado, como diz, em expor adequadamente sua obra, este ano, em Paris.

Últimas notícias