"Isso aqui só existe por causa do açúcar", bradava, do palco, no pré-lançamento de seu novo show, o cantor Otto, na praça da vila da Usina Santa Terezinha, zona rural de Xexéu, Mata Sul, no encerramento do primeiro dia de atividades do festival Arte na usina. "O açúcar provocou muita miséria e muita riqueza, mas é, sem dúvida, uma das origens de nossa riqueza cultural. Depois do período de decadência, é bom ver esse lugar renascendo com arte", continuou.
A fala do cantor e compositor é simbólica: idealizado pelo empresário Ricardo Pessoa de Queiroz sob curadoria e orientação do artista José Rufino, e produção da Proa Cultural, a antiga usina da Mata Sul vai virando um grande museu e equipamento de arte contemporênea. Em sua terceira edição, o festival é o lado festivo de uma série de atividades de arte-educação desenvolvida de forma permanente. Numa das antigas instalações, por exemplo, funciona uma escola permanente de formação musical para 40 jovens.
Antes do show de Otto, um público de cerca de 400 pessoas, formado por artistas, pessoas vindas do Recife e da comunidade local, assistiam, em plena praça pública, a palestras de artistas visuais contemporâneos. Numa delas, o gaúcho Hugo França apresentava sua obra de grandes esculturas mobiliárias a partir do aproveitamento de resíduos de grandes árvores.
Não deixava de ser curioso: no momento em que o Brasil assiste o crescimento de discursos moralistas contra museus e mostras importantes, a arte contemporânea ser discutida em praça pública, longe das instituições mais costumeiras, numa vila interiorna. "Nunca fui a um museu. É muito bom ver isso aqui, a gente precisa conhecer mais de arte", dizia, entusiasmada, a analista de sistemas Jaqueline Deodato, 29 anos, moradora de Xexéu. "Não tem esse negócio de que o povo não gosta de arte, o que as pessoas precisam mesmo de oportunidade", comentava o idealizador Ricardo Pessoa de Queiroz.
TRANSPORTE GRATUITO
Até o próximo sábado, quando acontece o show de Chico César, mesas de conversa, exposições, apresentações musicais e oficinas acontecem diariamente. O festival tem feito, nesse sentido, um grande esforço de formação de público. Para grupos de no mínimo dez pessoas, a produtora Proa Cultural disponibiliza, gratuitamente, transforte do Recife para a usina - onde é possível contratar hospedagens domiciliares. Para isso, pode-se entrar em contato com a produção através do telefone 3419-8070.