Quando, em 1965, o estilista Yves Saint-Laurent lançou sua coleção, os vestidos de jérsei com aplicações do geometrismo de Piet Mondrian se tornariam tão clássicos quanto a obra do próprio artista plástico. Nos últimos dias, uma grife carioca se valeu da volumetria nos quadros de Tarsila do Amaral para respaldar uma série de roupas. No Recife, uma marca de moda praia incorporou, neste verão, de estampas tiradas da obra de Brennand.
“Arte aplicada era como chamávamos o design estético. Sempre foi um grande interesse para mim, acho mesmo que sou um designer espontâneo, pois trabalho também com criação gráfica, tendo desenhado identidades de empresas, cartazes, livros, móveis, alfabetos...”, diz o artista Raul Córdula, um dos nomes fundamentais no panorama da arte moderna geométrica, contrariando a primazia do figurativismo em Pernambuco, que acaba de lançar uma coleção de bijuterias.
PARA TODOS
Acessíveis em termos de preço, como bijuterias devem ser, e de trato estético rigoroso como na arte, as peças usáveis serão lançadas numa espécie de vernissagem na próxima quarta-feira (13), na Arte Plural Galeria, no Bairro do Recife. “O adorno corporal, que vai desde a tatuagem até a vestimenta, passando pela joia e pela bijuteria (que pode ser arte também) é o que reverbera no entorno do corpo, na residência, na comunidade e, finalmente, na cidade. É claro que você pode ver na minha arte nenhum adorno, mas os reflexos culturais da modernidade a partir de uma visão racionalista e/ou minimalista”, diz Córdula.
Ainda quando morava no Rio de Janeiro dos anos 1960, Córdula frequentou o ateliê de joias de Marcio Mattar, um dos grandes designers do adorno e da comodidade ergométrica e estética no Brasil. Com ele, se iniciou na joalheria de prata. Mas a pintura o absorveria. “Minha opção pela pintura geométrica, porém, não significa uma opção pelo adorno, nem pelo que vulgarmente chamam de ‘arte decorativa’, isto simplesmente não existe”.
De volta ao interesse pelo adorno, Córdula, em vez de joias, exigentes de materiais preciosos, visita alguns de seus desenhos da década de 1990 e imprime suas bijuterias em acrílico. Cores puras em sinuoso geometrismo confirmam a assinatura do artista.
Paraibano radicado em Olinda e um dos primeiros artistas contemporâneos do País, Córdula é também crítico de arte e ganhou o prêmio de melhor contribuição crítica às artes visuais pela Associação Brasileira dos Críticos de Arte.
A arte do adorno de Raul Córdula - bijuterias. Quarta, a partir das 19h, na Arte Plural Galeria. Rua da Moeda, 140, Recife Antigo. Fone: 3424-4431.