MEMÓRIA

Exposição sobre Nise da Silveira reverencia seu presente legado

Mostra no Itaú Cultural homenageia a revolucionária psiquiatra alagoana

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 18/12/2017 às 12:03
Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
FOTO: Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
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Persistência é um substantivo feminino, assim como luta, inovação, e vanguarda. Nise da Silveira era a personificação de todos eles e muito mais: nordestina, primeira mulher a se formar em medicina em Alagoas, ela mudou para sempre a psiquiatria no Brasil – seu legado reverbera até hoje na luta antimanicomial – e deixou muitas saudades quando faleceu, em outubro de 1990, aos 94 anos. O Itaú Cultural, em São Paulo, presta, até o próximo dia 28 de janeiro, uma bela homenagem com a Ocupação Nise da Silveira.

A exposição encerra o calendário de 2017 do projeto Ocupações, iniciado em 2009 e que este ano se voltou apenas para relembrar mulheres brasileiras que fizeram ou ainda fazem história. Depois de Laura Cardoso, Conceição Evaristo, Aracy Amaral e Inezita Barroso, foi a vez da vida e da grandiosa obra de Nise ocupar o primeiro andar do centro cultural.

Logo na entrada da mostra, o visitante é apresentado ao vocabulário mais característico de Nise: estão projetadas palavras como “renascimento”, “pessoa”, “visível”, “respeito” e “escutar”. Em seguida, o corredor que conduz pelos primeiros 30 anos da vida da psiquiatra é também o único que segue uma ordem cronológica. Fotos, fac-símiles de cartas e informações sobre sua infância, adolescência e início da fase adulta são expostos. Por último estão reproduções de notícias dos jornais da época em que Nise foi presa, em 1936 – ela tinha então 31 anos e fora, em plena Era Vargas, acusada de comunismo, estampando capas de periódicos com as manchetes “A doutora vermelha” e “Comunista perigosa!”.

A detenção durou pouco mais de um ano, mas este tempo foi suficiente para provocar em Nise uma grande mudança na maneira com a qual ela passaria a enxergar a prática psiquiátrica. Oito anos depois, ela volta ao serviço público – setor ao qual se sente “visceralmente amarrada”, como dizia – e passa a trabalhar no Centro Psiquiátrico Nacional, hoje o Instituto Municipal Nise da Silveira. É lá onde, após se recusar a praticar lobotomia e eletrochoques nos pacientes, ela passa a coordenar a seção de terapia ocupacional e cria os ateliês de pintura, marcenaria, costura e modelagem. As dificuldades enfrentadas pela alagoana são retratadas na exposição, mas com menos ênfase que seus sucessos.

A amizade com Jung, as análises das mandalas desenhadas pelos pacientes, a exposição no Museu de Arte Moderna, a sua relação com os animais e as inúmeras inovações introduzidas por Nise – não sem ridicularização por parte de seus colegas – estão reunidas na exposição. A acessibilidade é outro ponto positivo da mostra: além dos vídeos em Libras e das legendas em braile, alguns dos quadros foram reproduzidos de maneira tátil.

* A repórter viajou a convite do Itaú Cultural

Confira algumas fotos da mostra:

Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Quadro reproduzido de maneira tátil para os visitantes com deficiência visual - Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Painel que representa a relação que Nise e seus pacientes tinham com os animais - Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Exposição sobre Nise da Silveira - Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Nise da Silveira em diversos momentos de sua trajetória profissional - Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Exposição sobre Nise da Silveira - Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Foto: Agência Ophelia/ Divulgação
Entrada da exposição sobre Nise da Silveira - Foto: Agência Ophelia/ Divulgação

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