Exposição

'Hermes', exposição de Bruno Vilela, aporta na Amparo 60

Bebendo em fontes esotéricas, 'Hermes' encontra inspiração nas coincidências sincréticas em torno da figura mitológica que batiza a exposição

Flávia de Gusmão
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Flávia de Gusmão
Publicado em 25/07/2018 às 8:34
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Bebendo em fontes esotéricas, 'Hermes' encontra inspiração nas coincidências sincréticas em torno da figura mitológica que batiza a exposição - FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Amanhã, dia 26 de julho, o recifense Bruno Vilela faz aniversário (completa 41 anos) e inaugura a exposição intitulada Hermes. Por sua vez, a Galeria Amparo 60, onde acontecerá o evento, carimba, do mesmo modo que o autor, duas décadas dedicadas às artes visuais. Exatamente a partir desta data (até o dia 19 de agosto), segundo a astrologia, Mercúrio estará retrógrado. O planeta foi batizado em homenagem ao deus romano, que na mitologia grega recebe o nome de Hermes, assim como a exposição. Num outro sincretismo, Hermes se une ao deus egípcio Toth, transformando-se na divindade Hermes Trismegisto (três vezes grande).

O conjunto de coincidências, se é que podemos chamá-las assim, talvez seja o principal balizador para capturar a essência dessa reunião de obras de Bruno Vilela, que se voltou para o hermetismo, usando como viga mestra o Caibalion. Este livro reúne e explica as sete leis herméticas: 1) o mentalismo (tudo está na mente); 2) a vibração (tudo vibra, e elementos da mesma vibração tendem a se congregar); 3) a correspondência (assim na terra como no céu); 4) a polaridade (o positivo e o negativo como aspectos de um fenômeno único); 5) o ritmo (tudo no universo obedece um ciclo de expansão e contração); 6) o gênero (masculino e feminino estão em todos os seres); 7) causa e efeito (toda ação gera uma reação, nada escapa a esta lei).

Há quatro anos sem expor no Recife, Vilela, que é um dos principais nomes de sua geração, integra pela primeira vez desenho, pintura, fotografia e estudos, costurando um diálogo bem concatenado que tem nos princípios do hermetismo seu grande lugar de fala.

Esta não é a primeira vez que Bruno Vilela se debruça sobre as religiões, para compará-las até encontrar um ponto focal e comum. Desde 2010, o artista navega por afluentes como as crenças iorubá, católica, pela mitologia e arquétipos, de onde retira as inúmeras vias de ligação com o divino, que, embora pareçam se distanciar, na verdade, aproximam-se de um todo, uno e indivisível, propagado desde o nascer dos tempos.

"A figura de Hermes aparece até em igrejas católicas. Existe um mosaico da lendária figura numa catedral em Siena. A lenda diz que Hermes passou o conhecimento a Abraão e desde então todas as religiões têm fundamentos nos princípios herméticos. Do hermetismo surge a alquimia e dela os grandes arquitetos e artistas do renascimento que eram alquimistas", conta Bruno.

HERMETISMO

"Em qualquer lugar que se achem os vestígios do Mestre, os ouvidos que estiverem preparados para recebeu o seu Ensinamento se abrirão completamente. Quando os ouvidos do discípulo estão preparados para ouvir, então vêm os lábios para enchê-los de sabedoria”. Este trecho do Caibalion – uma publicação de pouco mais de 120 páginas – é o sinal de largada dado por Bruno Vilela para os que se dispuserem a seguir o seu raciocínio.

Falar em hermetismo é, necessariamente, se referir à alquimia e aos grandes mistérios esotéricos, nos quais só é possível penetrar quando se está pronto. É falar, também, na grande mágica do autoconhecimento: aquela que transforma pensamentos e sentimentos grosseiramente formados em algo extremamente refinado. É o religar, e é o elevar-se diante do contato com algo maior.

Em suas fotos, Bruno ora busca vestígios de Hermes (jorrando água-conhecimento pela boca em forma de fonte), ora descobre uma construção que, em sua forma, bem que poderia estar localizada num templo perdido no Oriente, não estivesse escondida na vegetação tropical do Rio de Janeiro. Em seus desenhos, ele leva ao extremo a prática do “solve et coagula” (dissolva e solidifique) ao usar a técnica de aplicar carvão preto sobre uma base colorida (turquesa, verde-esmeralda e vermelha) para, depois, ir apagando o escuro para deixar surgir o desenho no tom oculto.

A cada passo, em cada obra, uma simbologia que remete aos ensinamentos ancestrais, cozidos no caldeirão alquímico que tem servido a gerações em todas as latitudes e crenças: as asas que transportam Mercúrio/Hermes, mensageiro do Olimpo; o circumponto, antigo símbolo asiático que representa o sol e o universo; o caduceu de Hermes, que representa o sentido espiral da vida e morte, o yin e o yang, o céu e o inferno, a terra e o céu. Deus está em todo lugar.

Hermes – Exposição de Bruno Vilela. Abertura para convidados: quinta-feira, 19h. Visitação: de 27 de julho a 15 de setembro. Terça a sexta, das 10h às 19h. Sábados das 11h às 17h. Galeria Amparo 60. Rua Artur Muniz, 82, Boa Viagem, edifício Califórnia, primeiro andar, salas 13/14, fone: 3033-6060

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