Exposição

O grafite em telas de Toz

Artista leva sua arte das ruas para a Caixa Cultural do Recife a partir de Insonia, um personagem pensado como arquétipo

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 18/12/2018 às 17:33
Rogério Resende / Divulgação
Artista leva sua arte das ruas para a Caixa Cultural do Recife a partir de Insonia, um personagem pensado como arquétipo - FOTO: Rogério Resende / Divulgação
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Baiano de Salvador, há mais de vinte anos Tomaz Vianna atua, diretamente, na paisagem do Rio de Janeiro onde vive. Conhecido como Toz, o grafiteiro tem inscrito seus personagens nas paredes e muros de bairros diversos. Há oito anos, na cidade, surgiu, meio que por acaso biográfico, um de seus personagens mais constantes, uma das criaturas com potência narrativa ambivalente para transitar das ruas aos espaços fechados e institucionais das galerias e museus. Amanhã, a Caixa Cultural do Recife recebe a exposição Toz - Cultura Insônia, uma digressão, a partir do grafite em telas, sobre esse personagem e seu universo ficcional.

Como um malandro das noites da Lapa, um exu de terreiro de Salvador ou um flâneur dos abismos do sereno, Insônia é uma espécie de arquétipo criado por Toz, o grafiteiro quilometrado que, há uns anos, começa também a ser bem recebido e exposto nas instituições. Sem muita elucubração intelectual, um um personagem para lhe ajudar na lida com o cotidiano mais prosaico.

“Eu sempre gostei muito de quadrinhos, isso foi uma coisa que marcou muito a minha infância, quando eu já criava personagens para me comunicar. Comecei a fazer grafite como qualquer grafiteiro, muito baseado na cultura do hip hop. Todos têm relação com minha vida pessoal. Insônia não foi diferente: fiquei solteiro e mais envolvido com a noite nesse período. Conversava com os garçons, músicos, DJs, a galera que vive na noite, e aquilo começou a mexer comigo. Pintei um personagem todo de preto, menor, com a cabeça pequena, e os olhos de losango”, lembra.

Depois, numa ida a Salvador da infância, veio o verniz arquetípico final do personagem. “Estava na Feira de São Joaquim, aonde ia muito com meu pai. Não sou muito ligado à religião, entendo pouco, mas amigos me falaram que o Insônia parecia um exu, de alguma forma, mexeu com minhas raízes, assim, ele ficou mais místico, mais alongado”, continua.

PINCEL

Misto entre grafite e outras técnicas, como a colagem de materiais como purpurina e o uso tradicional de pincel e tinta acrílica, as telas, algumas delas inéditas, trazem o personagem em cores saturadas, fortes e angulações geométricas, - confirmando a ascendência estética com a linguagem das ruas e das HQs. Ora, o personagem aparece em seu habitat mítico - caso de Insônia numa selva de folhas multicoloridas. Outras vezes, evidenciando seu caráter arquetípico, o personagem está multiplicado. Como na tela Insônia Matriarca, em que a figura aparece em vários corpos femininos, num paredão de personagens que sugerem ancestralidade, pertencimento, autonomia e identidade.

Em exposições anteriores, como conta, o artista retratou origens do personagem e de seu povo, também chamado de Insônia: o indivíduo é ponto de partida de sua genealogia e de suas memórias. Na mostra, ele retrata o processo descobertas em torno da diversidade desse povo. “Preencho suas obras com a história dessa civilização imaginária e a natureza que a cerca, ao passo que se evidencia sua cultura e miscigenação, atravessadas pelas questões sobre territorialidade e ciclos migratórios”. A mostra traz ainda esculturas a partir da apropriação de objetos como a reforçar o caráter totêmico desse povo imaginário.

Como seus colegas de rua, Toz tem feito a transição, pacificada de tensões anteriores, entre o grafite das ruas e a arte das galerias. Em 2014, fez sua primeira mostra institucional individual: Metamorfose ocupou o Centro Cultural Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, já abriria sua primeira individual internacional, em Paris, com a Instalação Vendedor de Alegria. Em 2016, foi convidado para realizar dois painéis de grafite indoor em Nova York e Hong Kong.

“A arte contemporânea ainda não aceitou totalmente a arte que vem com esse sobrenome rua”, diz ele, estabelecendo os limites: “Na exposição, não é grafite, o grafite precisa do suporte rua. São duas formas diferentes de expressar, adoro rua e não pretendo parar. Ma estou apenas começando minha trajetória em espaços fechados”.

Toz - Cultura Insônia. Abertura; 18 de dezembro, 18h. Caixa Cultural Recife. Av. Alfredo Lisboa, 505, Praça do Marco Zero, Bairro do Recife.

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